Soteropolitano supera o limite da falta de educação ao destruir a cidade

Que o dicionário de expressões baianas é muito vasto, ninguém duvida. Mas uma palavra parece não ter tradução exata para o baianês: civilidade. Ela representa o conjunto de atos que os cidadãos adotam para demonstrar respeito, consideração e boas maneiras em sociedade. Mas basta andar nas ruas de Salvador para ter a certeza que o conceito anda mal aplicado.

Praças, áreas de lazer, obras de arte e o mobiliário urbano são só alguns equipamentos que sofrem com o vandalismo e a falta de educação. E o problema não se restringe a áreas públicas: na Arena Fonte Nova e em outras parcerias público-privadas, a situação se repete com frequência. O resultado disso não é positivo para ninguém. Segundo a Prefeitura, R$ 1,6 milhão foi gasto desde o início da gestão para reverter a ação de vândalos.

Recém-inauguradas, mas já aos pedaços 
Oito meses após a entrega, a nova orla de Itapuã, obra que custou R$ 28,1 milhões, já sofre com o descaso da população. Em visita ao local, a Metrópole encontrou bancos de madeira sem encosto e a ausência de lixeiras.

E a situação não é isolada. No Rio Vermelho, que teve a primeira etapa de revitalização entregue em janeiro, bastaram horas para os primeiros sinais de vandalismo aparecerem: contenções no Largo da Mariquita foram derrubadas já na noite da inauguração. Em maio desse ano, quem visitou o bairro deparou com problemas no piso da quadra e até mesmo problemas nas bases estruturais de quiosques.

Passarela sem lixeiras
Trabalhando há cerca de dois anos em uma banca de revistas na Pituba, Humberto dos Santos não sabe dizer o nome da praça do local, já que a placa que trazia os dizeres foi arrancada. O espaço já abrigou brinquedos infantis, bancos e até sanitários químicos, mas atualmente ostenta apenas o descaso. “Acaba que fica inutilizada. A população pode ajudar mantendo, preservando. Não é só culpa do poder público. Ele vem, faz e a população destrói. Aí, depois, ele [Poder Público] esquece a praça”, reclama.

Na Passarela da Madeireira Brotas, inaugurada em julho de 2014 e que recebeu um investimento de R$ 3,8 milhões do governo do estado, três lixeiras já foram arrancadas.  Instalada para garantir a segurança de pedestres, uma câmera de monitoramento também já foi retirada. “Além das pichações por toda a parte”, lembra a aposentada Lourdes Nunes.

Prejuízo já ultrapassa R$ 1,5 milhão 
A estimativa é que a Prefeitura já tenha gasto cerca de R$ 1,6 milhão, em quatro anos, na recuperação de equipamentos vandalizados. Fios elétricos, bancos, estátuas e equipamentos de decoração são os principais alvos. Nos oito primeiros meses de 2015 — último dado da Prefeitura — foram registrados 203 atos de vandalismo.

Diretor de Iluminação Pública da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), Bruno Barral afirma que, até maio, o prejuízo foi de cerca de R$ 180 mil, só com furtos de lâmpadas, cabos e itens de iluminação. “Às vezes, um roubo de 4 ou 5m de cabo deixa uma avenida toda sem iluminação”, disse. E os criminosos não aguardam nem a conclusão das obras. “Na passarela próxima à Magalhães Neto, tivemos furtos sucessivos. A gente estava fazendo a iluminação, trocamos o turno e, quando voltamos, já tinham levado as luminárias”, falou.

Orla e Centro são os principais alvos 
O Centro da cidade e a região da Orla são lideram o ranking de furtos e depredações. “Aquela região do Jardim dos Namorados, ontem [segunda, 6] tivemos um furto. Passei ontem à noite e tinham seis postes apagados. Quando fui olhar a causa, tinha sido furto de cabo”, afirma Barral.

Secretário de Manutenção de Salvador, Marcílio Bastos incluiu ainda na lista a região da Praça da Sé e do Campo Grande. “Temos percebido que nas áreas do Centro, há dificuldade de você enraizar o sentimento de pertencimento, pelo fato de ser, muitas vezes, área de passagem. As pessoas passam por ali e não se sentem donas do espaço”, explica.

270 cadeiras arrancadas no último BA-VI na Fonte
Fruto de uma parceria público-privada, a Arena Fonte Nova, inaugurada em abril de 2013, teve cerca de 270 assentos arrancados somente no último jogo entre Bahia e Vitória. Na maioria das vezes, o vandalismo é resultado de brigas entre torcedores e causou, somente em 2016, o prejuízo de mais de R$ 300 mil ao consórcio que administra a Arena.

“O número de assentos destruídos já passa de 3 mil apenas no primeiro semestre de 2016.  Em 2015, nós tivemos 2.500 cadeiras danificadas. Ou seja, a gente tem um número grande em 2015 e já está se aproximando dele em 2016”, explicou o coordenador de operações da Arena, Igor Oliveira.

Limpurb tenta alertar
A falta de educação é evidenciada quando o assunto é lixo. Presidente da Limpurb, Kaio Leal declarou à Metrópole que precisa contar com o apoio da população, mas nem sempre a ajuda chega. “Cada bairro tem uma característica diferente e a gente vai observando, atuando, conversando e tentando conscientizar a população para que colabore”, explicou.

Segundo Leal, em bairros mais populosos e em grandes avenidas, a coleta é feita diariamente, mas ainda não é difícil achar quem descarta o lixo em horário irregular.
“A gente busca fazer essa coleta todos os dias e tem até bairros, como São Marcos, em que a gente realiza a coleta de dia e de noite”, afirmou.

Ideia de Lelé ajuda hoje
Idealizada pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, na gestão de Mário Kertész, a fábrica de equipamentos públicos de Salvador tem sido a aposta da Prefeitura, aliada à conscientização popular, para solucionar o problema.

“É uma herança que ficou e um diferencial para Salvador. Produzimos bancos, brinquedos infantis, equipamentos de ginástica e outros. A mídia também tem ajudado muito nessa conscientização da população com o bem público”, disse Marcílio Bastos.

Segundo ele, a iniciativa tem surtido efeito. “Em 2016, já estamos praticamente no meio do ano, e gastamos até agora, aproximadamente, R$ 100 mil. Ou seja, houve uma redução significativa”, afirmou.

(Metro 1)



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