Instituto baiano tira nome e foto de Daniel Alves de sede após prisão por estupro

Nova fachada do instituto que levava o nome do lateral direito Daniel Alves
Imagem: Aurélio Nunes

Quem passa diariamente pela avenida Beira-Rio em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, notou uma movimentação diferente no Instituto DNA nas últimas semanas. A foto gigante e o nome do jogador Daniel Alves sumiram da fachada da ONG, que agora se autodenomina Instituto Liderança.

A alteração no letreiro sinaliza uma mudança de postura da entidade em relação ao seu patrono. No dia 20 de janeiro, quando Daniel Alves foi preso acusado de ter estuprado uma jovem de 23 anos em uma boate de Barcelona, o Instituto DNA publicou nota em que reforçou “a confiança na marca e no comportamento ético e sua conduta ilibada”. Além disso, garantiu que manteria suas atividades com “todos os seus valores voltados à família e à construção de um mundo melhor”.

Passados pouco mais de seis meses, no entanto, a associação com a imagem de Daniel Alves deixou de representar um capital político importante para sua própria ONG. Desde a prisão, Daniel Alves deixou de ser lembrado pela condição de “maior campeão da história do futebol”. O posto de recordista mundial de títulos conquistados, 43 ao todo, que ele divide com o ex-companheiro de Barcelona Lionel Messi, foi ofuscado pelo noticiário das contradições de seus depoimentos e pelas revelações de detalhes das investigações que comprovam que houve relação sexual com a denunciante, fato que ele chegou a negar.

No mesmo período em que Daniel Alves teve rescindido o contrato com o Pumas, do México, por justa causa, o casamento de oito anos com a modelo Joana Sanz dissolvido e os dois recursos por liberdade provisória recusados pela Justiça espanhola, o instituto que ele preside também sofreu com a perda de parcerias importantes, sobretudo com o poder público.

Na Bahia, o convênio que assegura o funcionamento da unidade de Itapuã do Instituto DNA foi mantido pela Prefeitura de Salvador, mas o espaço de Lauro de Freitas deixou de contar com o apoio para uma ação que previa beneficiar crianças e adolescentes da rede municipal de ensino.

Atualmente, o espaço de mais de mil metros quadrados está praticamente desocupado. A reportagem do UOL esteve no local na última semana e encontrou apenas um vigia e um funcionário da MSC Marketing Esportivo, gestora dos projetos do instituto.

Na versão de um dos colaboradores, que preferiu não se identificar, a entidade vinha operando normalmente até que a Prefeitura de Lauro de Freitas deixou de realizar o transporte dos estudantes. Em nota, a prefeitura declarou que “nunca possuiu qualquer vínculo e/ou convênio com o instituto citado” e que “as vagas disponíveis para crianças e adolescentes para aulas gratuitas de iniciação esportiva foram intermediadas diretamente pela Superintendência Estadual dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb).”

Já a Sudesb, que é uma autarquia vinculada ao governo da Bahia, alega que o acordo não foi concretizado porque “a documentação necessária para celebração do convênio não foi apresentada” pelo Instituto DNA. No dia 25 de março de 2022, no entanto, o site oficial do governo da Bahia chegou a divulgar que Sudesb e DNA iriam “inscrever 200 crianças e adolescentes em aulas gratuitas de iniciação esportiva nas modalidades de basquete, futsal e artes marciais, em parceria que se dá por meio do Programa Esporte por Toda Parte.” O anúncio foi feito em evento que contou com as presenças do diretor geral da autarquia, Vicente Neto, e do próprio dono da instituição, Daniel Alves, que à época atuava pelo Barcelona.

Ao substituir o nome de Daniel Alves pela palavra Liderança, o Instituto DNA recorreu a uma receita caseira. Liderança, na verdade, não é um nome novo, mas a antiga razão social da entidade até maio de 2021, quando foi assumida pelo jogador. Até então, o Instituto DNA pertencia a Leandro Costa de Almeida, ex-treinador de basquete.

O caso foi revelado pela Folha em abril de 2022, quando o governo Bolsonaro autorizou o repasse de R$ 3,5 milhões para a instituição de Daniel Alves e de outros R$ 2,7 milhões para outro astro do futebol, o ex-jogador Emerson Sheik, dono do Instituto Qualivida.

Ambas as instituições estavam inativas quando foram adquiridas, o que reforçava a suspeita de se tratarem de ONGs de prateleira, entidades usadas para driblar a regra que estabelece a necessidade de uma sociedade civil existir há pelo menos três anos para firmar acordos com o governo federal.



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