Célia Sacramento acusa ACM Neto de superfaturar obras

A candidatura da atual vice-prefeita Célia Sacramento foi a mais surpreendente. Ela era cotada para repetir a dobradinha com o prefeito ACM Neto (DEM). Trocada por Bruno Reis (PMDB), decidiu enfrentar a corrida para o Palácio Tomé de Souza onde pretende, caso seja eleita, fazer o que o atual gestor “não fez”. Ela insinua que as obras da prefeitura são caras e que deveriam beneficiar áreas carentes. Disse que ao longo da gestão de Neto apontou falhas e pediu correção de rumos, mas o prefeito não teria atendido. Com Célia Sacramento A TARDE abre a série de entrevistas com os candidatos a prefeito de Salvador.

A candidatura da senhora se deve ao fato de ser excluída da vice do prefeito ACM Neto (DEM), ou quer contribuir para a cidade como candidata?

Eu estava em casa quando um grupo me chamou para a política. E a ideia é propor uma nova forma de fazer política na cidade. Fui a vereadora mais votada pelo PV em 2008, depois fui candidata a deputada federal e o prefeito (ACM Neto) me convidou a ser vice quando eu era pré-candidata a prefeita pelo PV. Então, já existia essa disposição. Ano passado comuniquei ao prefeito a mudança para o PPL e ele disse que era um partido sem musculatura, não tem deputados federais, seria muito difícil (a escolha de novo vice). Eu disse que pretendia ser candidata.

Mas a impressão é que foi uma reação por não ser escolhida…

O problema é que o prefeito demorou a definir o nome. Desde que eu fiz a aliança com o prefeito, todos me diziam: “Célia, ele vai lhe trair, lhe apunhalar pelas costas, vai lhe descartar”. Eu respondia: “Gente, na política não tem isso. No momento oportuno, da mesma forma que ele teve a educação, de forma honrada, de me chamar na minha casa, vai com educação e no momento oportuno comunicar”. Agora, dizer que é momento oportuno avisar 12 horas antes da convenção (do DEM que homologou a chapa)… Nesse momento achei que ele não foi corajoso. Colocou em xeque sua carreira política.

O prefeito usou argumentos para escolher Bruno Reis (PMDB). Não lhe convenceram?

Sem dúvida. A população não quer saber de políticos que estão envolvidos na Operação Lava Jato, em qualquer esquema de corrupção. Fui para um partido em que todos os integrantes têm uma história de conduta ilibada. Ou seja, estava trazendo para ele um partido limpo. Ele abriu mão disso.

Então, na sua visão, o PMDB é um ponto fraco na chapa do prefeito?

Na minha visão, sim. Apesar de que, quando fui fazer minha aliança com o Democratas, este era um dos partidos mais corruptos do Brasil. Deixei claro que minha aliança era com o prefeito. O DEM tem esse histórico de corruptos. Mas os corruptos já saíram ou morreram, então fiquei com o prefeito. Hoje, quando ele fez essa aliança (com o PMDB) não olhou para isso, se preocupou com o tempo da televisão. Acredito que vamos mostrar nessa campanha que não é bem assim.

A senhora acha que quando Neto lhe escolheu para vice, em 2012, pretendeu usar a negritude para conseguir votos?

As pessoas falaram muito isso. Eu disse sempre que não acreditava nisso. Por conta da minha competência profissional, meu envolvimento com os movimentos sociais, o movimento negro. Eu dizia: gente, ele está me convidando para fazer parte do grupo.

Falaram também que o candidato do PT, na época Nelson Pelegrino, colocou Olivia Santana como vice justamente para tentar anular o efeito de sua presença na chapa do prefeito…

Eu que disse isso. O apelo para a questão de ser negro é tão grande, real, que ele me convidou, Pelegrino convidou Olívia e Mário Kertész convidou Nestor Neto. Agora há uma realidade política diferente, ninguém colocou. Eu não podia deixar o nosso povo sem uma representatividade negra verdadeira. E deixe o povo julgar. O eleitor de Salvador nunca teve a oportunidade de dizer: eu quero votar numa pessoa assim, que veio do gueto como eu, que conhece a minha realidade, que não está interessado em triplicar os trilhões que já tem nas contas devido a estratégias na prefeitura. A cidade quer uma pessoa disposta a trabalhar. Sou essa pessoa. Como vice, trabalhei 18 horas por dia na prefeitura.

A senhora fez críticas em relação à aplicação de recursos da prefeitura na Barra e no Rio Vermelho, achando que deveria haver mais recursos para a área social. Nesses quatro anos como vice, o prefeito não ouvia suas ponderações sobre a gestão?

Nunca deixei de fazer meus comentários em público. Nem sempre a mídia divulgou. Lembro do dia em que o prefeito me chamou para a instalação do Conselho Municipal do Turismo. Cheguei lá e pensei que estava na Finlândia. Não tem nenhum negro. O prefeito me passou o microfone. Agradeci estar ali e achei injusto que numa cidade como Salvador, com mais de 80% da população negra, formar o Conselho do Turismo e sequer ter uma entidade para representar essa população. Não saiu uma vírgula do que disse. Também critiquei a forma como foi feito o Mercado de Cajazeiras.

A senhora fala como especialista?

Sou especialista em análises de custos. Sou formada na USP. Se tem uma pessoa que entende de controladoria sou eu. Fui a primeira mestra em Contabilidade de Salvador. Os principais especialistas em controladoria e sistemas de custos na área empresarial como FIEB, Polo, Prefeitura, passaram por mim. Com essa expertise posso dizer: tivemos uma série de obras que foram feitas na prefeitura com custo muito maior que deveria.

A senhora se refere às obras da Barra e do Rio Vermelho?

Sim. Também aquela ciclovia do subúrbio ferroviário. Quem já construiu casa, tem noção de preço dos materiais, ver milhões aplicados em certas reformas estremece as pessoas.

O prefeito não levava em conta suas ponderações?

Não. Certa feita pedi a ele para participar diretamente da orientação e análise da controladoria da Prefeitura. Ele não quis. Tudo que foi feito na cidade de positivo eu elogiava. Por que sucesso total? Em terra de banguelo quem tem um dente é rei. Estava tudo destruído. O que fizesse seria sucesso mesmo.

Adversários acusam o prefeito de falta de diálogo. A senhora concorda?

Claro. Veja o caso daquela reforma na Barra. Está bonita, mas pergunte se os moradores estão felizes. Vão dizer que não. Não ouviram o que os moradores queriam que fosse feito. Com 35% do que gastou lá, eu faria toda a cobertura do Canal do Camurugipe e faria encosta no Barro Branco, não morreriam aquelas 22 pessoas. Além do mais, Salvador é a capital do desemprego, enquanto o gestor público tem o seu patrimônio triplicado.

Como será a campanha da senhora?

Vou mostrar o que foi feito (na gestão de Neto) e o que precisa ser feito. Agora vamos focar nas pessoas que moram em condições sub-humanas. Creio que a população está entendendo que como eu  fui descartada, pode ocorrer com qualquer um.

A prefeitura tem recursos para melhorar a cidade?

É só otimizar e fazer parcerias com o povo.

E os recursos para campanha?

Tenho recebido muitas contribuições, estou  feliz apesar da decepção.

(A Tarde)



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