Feira: PM diz ter sido chamado de ‘macaco’ e confessa agressão a jovem que está na UTI

Um policial militar se apresentou à Polícia Civil nesta quarta-feira (3) e confessou ter agredido owebdesigner Milton da Silva França Junior, de 23 anos, que ficou em coma após ser espancado na área externa do Boulevard Shopping, no município de Feira de Santana, a cerca de 100 quilômetros de Salvador. De acordo com o delegado João Uzzum, titular da 1ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin), o PM Miguel Ângelo Almeida de Assis, 39 anos, alegou que deu um soco no rapaz após ser chamado de ‘macaco’ pela vítima, durante uma discussão no centro de compras. O webdesigner está internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral Clériston Andrade com traumatismo craniano e traumas no tórax.

“Ele [o PM] foi reconhecido por uma testemunha como sendo o autor da agressão. Além disso, imagens de câmeras de segurança às quais a polícia teve acesso também levaram a ele. O PM, que é negro, confessou a agressão, alega ter havido uma discussão e diz que o rapaz chamou ele de macaco. Ele afirma que, por conta da ofensa, ficou nervoso e deu um soco na vítima”, disse o delegado, em contato com o G1.

Rapaz agredido está internado em coma (Foto: Reprodução/TV Subaé)
Rapaz agredido está internado em coma (Foto:
Reprodução/TV Subaé)

 

Ao contrário do que o pai da vítima relatou na denúncia, de que o filho teria sido agredido por dois seguranças do shopping, o PM afirmou no depoimento que não trabalha no estabelecimento comercial. O policial, que atua na corporação em Feira de Santana há oito anos, destacou que tinha ido ao shopping para assistir a um filme no cinema com um amigo quando foi xingado pelo webdesigner. O amigo do PM, segundo a polícia, não teria se envolvido na discussão, mas será chamado para prestar depoimento.

“Ele [o PM] alega que não é segurança do shopping, mas tudo indica que se trata de um segurança clandestino. E foi apenas ele quem agrediu. Não houve um segundo agressor. Isso fica claro nas imagens analisadas pela polícia. Um segurança do shopping estava também na situação, mas somente ele [o PM] agrediu. As testemunhas também dizem o mesmo”, destacou Uzzum.

O PM disse que deu apenas um soco no rapaz e que deixou o local logo após a agressão, mas a polícia ainda investiga porque a vítima, além de traumatismo craniano, também apresenta traumas no tórax.

“Será encaminhado um ofício ao Departamento de Polícia Técnica para que seja feita perícia de corpo de delito nesse rapaz, para que a gente possa verificar se de fato somente o soco ocorreu e se ele [a vítima] sofreu os traumas no tórax ao cair”, destacou a delegada Ludmilla Vilas Boas, que tambpém acompanha o caso.

Policial (à direita) se apresentou ao lado de advogado e confessou agressão em Feira de Santana. (Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade.)
Policial (à direita) se apresentou ao lado de advogado e confessou agressão em Feira de Santana. (Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade.)

Caso
O caso ocorreu no último sábado (30). O pai do jovem de 23 anos denunciou que dois seguranças do Boulevard Shopping espancaram o filho na área externa do estabelecimento. Milton da Silva França afirma que o filho estava acompanhado de um amigo que também afirma ter sido vítima da agressões.

Ambos chegaram ao shopping de motocicleta por volta das 21h. Ao entrarem no empreendimento, Milton conta que o amigo do filho questionou o motivo de estarem sendo encarados pelos seguranças. “Será que estão pensando que somos vagabundos?”, disse o pai sobre a pergunta feita pelo rapaz aos vigilantes.

Por meio do relato do amigo do filho, o pai conta que ambos foram pegos à força pelos braços após o questionamento, mas conseguiram se desprender e entrar no shopping. Na saída, cerca de 15 minutos depois, diz que os rapazes foram novamente surpreendidos pelos seguranças.

“Um deles deu um murro no meu filho. O amigo conseguiu correr. Caído, meu filho provavelmente foi agredido com chutes. Ele teve que fazer uma cirurgia às pressas para limpar os pulmões. Os chutes que eles deram atingiram [os pulmões]. O caso é muito sério, mas no momento o quadro clínico do meu filho é estável”, afirma.

Sem se identificar, o amigo da vítima contou o que aconteceu: “Quando a gente entrou na loja, eu fiz um simples comentário com meu colega, os seguranças retiraram a gente da loja e começou uma discussão verbal”, disse o rapaz.

“A gente comentou, porque eles estavam olhando demais para a gente, ou seja, racismo por a gente estar usando roupas de marca ou ser negro”, completou.

O rapaz conta que as agressões ocorreram após eles saírem do estabelecimento. “Ao sair da loja, a gente foi acompanhados por eles, próximo à saída, quando aconteceu a agressão e o espancamento”, afirmou.

Para o pai, o filho e o amigo foram vítimas de preconceito. “Eu acho que é preconceito pelo uso de tatuagem no braço, na perna. Um absurdo. Meu filho é trabalhador. Ele trabalha como fotógrafo. Por isso, fiz questão de denunciar. Não quero que isso se repita com mais ninguém”, desabafa.

Por meio de nota, o Boulevard Shopping informou que está apurando os fatos ocorridos na saída do seu estacionamento externo. Ao tomar conhecimento da situação, o shopping disse que uma equipe de bombeiros do empreendimento prestou os primeiros socorros e chamou o Samu imediatamente para prestar o atendimento à vítima. A administração do empreendimento disse ainda que está colaborando com as investigações policiais e ressaltou que a equipe de funcionários trabalha fardada e devidamente identificada.

*G1

 

 

 

 



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