Família de idosa morta após queda de árvore sagrada se revolta: “Foram vários pedidos para retirar essa árvore e nada”

Familiares da idosa Vanda Marins Ribeiro, de 64 anos, que morreu após a queda de uma árvore que ficava em um terreiro de candomblé, na madrugada desta sexta-feira (2), no bairro de Matatu de Brotas, em Salvador, afirmam que estão inconformados com a tragédia.

Parentes da idosa que morreu após ser atingida por árvore falam sobre acidente (Foto: Juliana Almirante/G1)
Parentes da idosa que morreu após ser atingida
por árvore falam sobre acidente
(Foto: Juliana Almirante/G1)

Joseline Marins, que é sobrinha da vítima, lamentou a perda e manifestou indignação. “O sentimento é de raiva. Infelizmente, perdemos ela dessa forma depois de tantas vezes que os vizinhos pediram que podassem essa árvore. Não fizeram nada e esperaram que acontecesse essa tragédia”, desabafou.

A neta da idosa, Suelen Marins, compartilha do mesmo sentimento. “Foram vários pedidos para retirar essa árvore e nada”, relata.

Os familiares contam que, além da idosa, a filha e dois netos dela ficaram feridos. Todos foram encaminhados para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não há informações sobre o estado de saúde.

Além da casa da idosa, outras oito residências foram atingidas pela árvore. Os imóveis ficavam em uma área vizinha ao terreiro Ilê Maroiá Lájié (Terreiro de Alaketu ou Olga de Alaketu), que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Juliana Portela, que é diretora de políticas sociais da Secretaria de Promoção Social, afirma que a casa da idosa ficou completamente destruída e as demais residências, parcialmente. Não há informações de quantas pessoas moravam nos imóveis, mas destaca que duas das casas estavam vazias no momento porque tinham passado por reforma.

“A gente vai fazer o cadastro social das pessoas que tiveram casas atingidas, em cima da avaliação da Codesal, que vai dizer se os moradores vão ter que sair definitivamente ou temporariamente”, diz. Eles vão receber auxílio aluguel de R$ 300 e auxílio emergência, de um a três salários mínimos, se tiverem perdido imóveis.

Por meio de nota, a Prefeitura de Salvador relatou que a Secretaria de Manutenção (Seman), “a pedido dos próprios moradores, já esteve no local para tentar fazer a erradicação do vegetal, sendo impedida pelos proprietários do terreno, que alegaram motivos religiosos (a árvore é considerada sagrada pelo terreiro)”.  A Prefeitura acrescentou que por se tratar de área privada, não fez a erradicação.

Solicitação de poda feita pelo terreiro à Sucop (Foto: Juliana Almirante / G1)
Solicitação de poda feita pelo terreiro à Sucop
(Foto: Juliana Almirante / G1)

Jocenilda Bispo, mãe pequena (segunda pessoa mais importante do terreiro),  nega que tenham impedido a entrada de agentes da prefeitura. “A Sucop veio em 2013 depois de um oficio. Chegaram a fazer uma poda, mas disseram que tinham que retirar mais galhos. Só que foi um período de festa em agosto de 2013. Pedimos pra esperar para setembro e não vieram mais”, diz.

Por meio de nota, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirmou que a última vistoria geral no terreiro realizada ocorreu em dezembro de 2015, quando não se constataram problemas ou riscos aparentes relacionados à árvore.

O órgão acrescentou que após a remoção de toda a árvore e dos escombros decorrentes da queda, uma nova vistoria será realizada pelo Iphan, para apurar a existência de outros danos ou riscos ao bem tombado e aos vizinhos em conjunto com a Defesa Civil.

No ano de 2013, o Iphan diz que executou obras de reforma e restauração no terreiro, com intervenções em algumas das edificações que necessitavam de obras emergenciais, drenagem superficial do terreno (o terreiro está localizado em uma encosta) e construção de escadarias de acesso, execução de muro no terreno do templo, além de uma série de intervenções de contenção de encosta aos fundos do terreno, com execução de cortina atirantada, estacas e solo grampeado. O órgão diz que o trecho do terreno ameaçava ruir sobre edificações vizinhas e o problema foi solucionado.

Ao menos duas pessoas ficaram feridas no acidente (Foto: Juliana Almirante/G1)
Árvore caiu sobre casas vizinhas à terreiro
(Foto: Juliana Almirante/G1)

Caso

A árvore centenária que fica dentro do terreiro de Alaketu caiu sobre nove casas e deixou uma idosa morta na madrugada desta sexta-feira (2), por volta das 2h. A informação é confirmada pela Prefeitura de Salvador, que por meio de nota afirma que outras quatro pessoas ficaram feridas.

A idosa morta foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros por volta das 9h20. Os quatro feridos foram  socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para unidades médicas de Salvador, mas não há informações sobre o estado de saúde.

Segundo a Prefeitura, moradores da localidade acreditam que a árvore caiu após ser atingida por um raio. No local, outros moradores relatam que viram um clarão semelhante ao provocado pelo rompimento de um fio de energia elétrica.  Técnicos da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Secretaria Municipal de Manutenção (Seman), Secretaria Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps) estão no local.

Protocolo mostra orientação da Codesal em 2012 (Foto: Juliana Almirante/G1)Protocolo mostra orientação da Codesal em 2012
(Foto: Juliana Almirante/G1)

Denúncias
De acordo com moradores, um protocolo foi feito na Superintendência de Conservação e Obras Públicas de Salvador (Sucop), em 2011, com o pedido da poda e retirada da árvore, que poderia cair.

A vizinha Maria de Fátima dos Santos, de 56 anos, que mora no local há mais de 30 anos, disse que já tinha solicitado a poda da árvore diversas vezes.

“Essa árvore sempre teve risco porque sempre caia graveto no telhado. A primeira vez que pedi foi no ano de 2000, mas não tive resposta. Em 2012, depois que parte do telhado caiu, a Codesal veio aqui e orientou que os moradores saíssem de casa se chovesse. Não fizeram poda. Em 2014, retiraram dois galhos”, relata. Ela disse ainda que já teve que fazer reforma no telhado por conta de desabamentos que ocorreram.

Maria de Fátima ainda mostrou o protocolo em que a Codesal orienta os moradores a saírem do imóvel em período de chuva. “A gente fica revoltado. Foi preciso morrer alguém para virem aqui”, reclama. Com a queda da árvore, o teto da casa dela desabou em dois quartos e na sala. Ela estava dormindo no quarto quando aconteceu e teve ferimentos leves no braço e na perna.

Oo ogã do terreiro, Florivaldo Cajé, disse que estava preocupado com a árvore e que solicitou podas. “Mandamos um ofício em 2013 para a Sucop. Mas não foi feita a poda”, afirma. Ele diz que, como o terreiro é tombado pelo Iphan eles precisam de autorização para fazer intervenções, inclusive na árvore. “Também não temos condições de fazer sozinhos porque a árvore é muito grande”, diz.O terreiro Ilê Maroiá Lájié (Terreiro de Alaketu ou Olga de Alaketu) é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

*G1



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