Cachoeira vive onda de violência: ‘todo mundo quer ir cedo pra casa’

Sobrado onde idosa foi assassinada nesta quinta (24) (Foto: Carol Aquino/CORREIO)

A bucólica Cachoeira, às margens do Rio Paraguaçu e seus casarões históricos, há alguns anos já não é mais um lugar seguro. Embora a população tenha se assustado diante do assassinato da idosa Francisca Amorim Nogueira, 61 anos, em sua casa, numa suposta briga entre traficantes, as pessoas sabem que a cidade não é mais um lugar tranquilo. E os números provam isso.

Segundo o Atlas da Violência, levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2005 e 2015 a taxa de homicídios na cidade, que tem 32 mil habitantes, aumentou quatro vezes. Se em 2005, a taxa era de 10 mortos na proporção para 100 mil habitantes, entre 2011 e 2015 a taxa em nenhum momento ficou abaixo de 46 assassinatos – com picos de 49,5 registros. Ou seja, as mortes violentas aumentaram quase quatro vezes.

Ante isso, a sensação de insegurança é cada vez maior para moradores ouvidos pela reportagem, nesta sexta-feira (24), e isso tem mudado a rotina da cidade, nos últimos anos. “Antes, a vida noturna daqui era muito agitada, hoje todo mundo quer ir cedo para casa. Não tem isso mais de a gente sair para fazer supermercado às oito horas da noite”, exemplifica uma moradora, que preferiu não se identificar.

Apesar do medo de sair após as dezoito horas, ela fala que não há hora nem lugar específico para alguém ser vítima de algum tipo de crime. “Os moradores vivem apreensivos”, aponta.

Tráfico na região
Para o delegado titular do município, Eduardo Coutinho, o principal motivo da onda de violência é a disputa pelo tráfico de drogas.

“A maior parte dos crimes aqui, fora os crimes passionais, está relacionada ao tráfico”, contou o delegado, que diz que a situação afeta toda a região, a exemplo de São Félix, Santo Amaro e Muritiba.

Em Cachoeira, o comando do tráfico é da facção Bonde do Maluco. O líder é Bruno Moreira Santos Santos, o Bruno Tilápia, que tem ao menos oito mandados de prisão contra ele. Nas cidades vizinhas do Recôncavo, há a presença também da facção Katiara.

Enquanto a reportagem esteve na cidade, nesta sexta, houve um tiroteio numa localidade chamada Pitanga, também ligada à guerra do tráfico na região, segundo a polícia.

Confronto
Na última segunda-feira (20), dois traficantes foram mortos em confronto com a polícia. Gabriel Santana Monteiro, 21 anos, e seu comparsa, um adolescente de 17 anos, foram baleados enquanto trocavam tiros com PMs. Segundo a polícia, Gabriel era suspeito de ter cometido um latrocínio (roubo seguido de morte) em São Félix, recentemente.

Ainda conforme a polícia, os dois faziam parte da quadrilha que foi responsável por atingir o policial militar Antonivaldo de Jesus Silva, ferido com tiros na cabeça enquanto levava um traficante ferido ao hospital.

Bandidos rivais foram até a área externa da unidade de saúde tentar matar o traficante ferido, mas os tiros acabaram atingindo o policial. Ele sobreviveu ao ataque, mas ainda não teve condições de voltar ao trabalho. A gravidade dos ferimentos não foi especificada.

Insegurança constante
Um taxista ouvido pela reportagem, e que também não quis se identificar, conta que já teve o carro levado duas vezes nos últimos anos. Na situação mais recente, há cerca de dois anos, o veículo foi alvejado por dez tiros e o passageiro ficou ferido.

“A polícia daqui trabalha, mas mesmo assim a violência está demais. O motivo é um só, é a droga. A droga é que está matando”, fala. Nascido e criado na cidade, ele conta que de uns 15 anos para cá a sensação de insegurança aumentou muito. “A gente não se acostuma a essa violência”, lamenta.



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