‘Meu filho morreu em meus braços’, diz mãe do bebê de 9 meses que esperou atendimento por 40 minutos

Foto: Imagem/TV Santa Cruz

“Ninguém deixou eu entrar. Meu filho morreu em meus braços, isso dói demais. Quando foram me atender, meu filho já tava morrendo. Estou muito mal, dói demais isso”, disse a mãe do bebê de 9 meses que morreu após esperar 40 minutos para ser atendido no Hospital Manoel Novaes, na cidade de Itabuna, sul da Bahia.

O caso aconteceu no início da manhã desta segunda-feira (25). O menino se chamava Levi. Segundo a mãe dele, Bisma Nonato Alves, de 21 anos, a criança começou a passar mal no domingo (24).

O bebê foi atendido inicialmente no Hospital Arlete Magalhães, em Pau Brasil, cidade onde morava com a família na reserva indígena de Caramuru Paraguassu. A criança chegou na unidade de saúde com quadro de pneumonia.

Segundo Bisma, o hospital tentou liberação para o atendimento em Itabuna, mas não conseguiu. Ele foi encaminhado para a Maternidade Ester Gomes, mas, por não conseguir atendimento, foi levado pela família para o Hospital Manoel Novaes.

Mãe relata que filho de 9 meses morreu nos braços dela após espera em hospital da BA — Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

Mãe relata que filho de 9 meses morreu nos braços dela após espera em hospital da BA — Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

O advogado Davi Pereira estava na unidade no momento do ocorrido e fez um vídeo sobre o que estava acontecendo. Ele relata que a criança veio a óbito por causa do descaso na saúde pública de Itabuna. Ele disse que vai levar o caso ao conhecimento do Ministério Público da Bahia (MP-BA), para que o órgão investigue a situação.

“Eu pessoalmente vou representar no Ministério Público para que se investigue criminalmente quem paga a fatura dessa criança morta. Alguém responde por homicídio doloso, pelo menos. Não pode uma criança chegar em Itabuna e ficar uma hora e meia em dois hospitais sem entrar até ir a óbito”, disse Davi Pereira.

O vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde de Itabuna, Paulo Silva, contou que há duas semanas foi realizada uma reunião no MP, na qual foi assinado um documento pelos prestadores da Maternidade Ester Gomes, do Hospital Manoel Novaes, do Conselho e da Secretaria de Saúde, que foi estabelecido novos recursos do Governo do Estado.

“O que a gente viu aqui foi o descumprimento desse acordo extrajudicial tirado do MP. A mesa diretora vai se reunir, vamos visitar a Maternidade Ester Gomes, o Hospital Manoel Novaes, de modo que a gente busque as informações dos prestadores e tome as medidas cabíveis diante desta tragédia que está acontecendo na saúde de Itabuna”, relatou Paulo Silva.

Ambulância que prestou atendimento a bebê de 9 meses que morreu em hospital da BA — Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

Ambulância que prestou atendimento a bebê de 9 meses que morreu em hospital da BA — Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

A diretora técnica do hospital, Fabiana Chavez, explicou sobre a demanda de pacientes com a entrada imediata na unidade.

“Nós temos, dentro da estrutura de saúde, hospitais de porta aberta, que recebe pacientes de livre e espontânea vontade. E tem hospitais de porta regulada, é o nosso caso. Não recebemos pacientes de livre demanda. Recebemos pacientes que são encaminhados via central de regulação de outras cidades, de outros municípios ou de outro hospital”, explicou Fabiana Chavez.

Em comunicado, a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, que administra o Hospital Manoel Novaes, informou que a criança chegou na unidade de saúde às 5h15, e que às 5h20 houve a liberação da regulação, e que o atendimento foi iniciado às 5h35.

“Dentro da ambulância deveria ter um profissional de saúde, que deveria ter feito essa interface para demonstrar se o paciente estava grave ou não. E a ambulância não tinha nenhum, por isso demorou mais. Nós não tínhamos vagas de UTI pediátrica. O paciente estava na nossa porta, estava pedindo a vaga, a gente tentou remanejar. Foi tirado da nossa unidade uma criança que já estava mais estável para aceitar essa criança mais grave”, disse Fabiana.

Mãe a espera de atendimento do bebê de 9 meses no Hospital Manoel Novaes, na BA — Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

Mãe a espera de atendimento do bebê de 9 meses no Hospital Manoel Novaes, na BA — Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

“O paciente chegou com a mãe segurando o oxigênio, o que é inadequado, porque quem tem que fazer isso é o profissional de saúde. O acesso venoso do paciente estava obstruído. O paciente entrou aqui e foi pego um acesso intraósseo, para conseguir dar líquidos e fazer medicação. Ele foi entubado e foram feitas todas as manobras dentro do padrão de reanimação”, completou a diretora.

Em nota, a Secretaria de Saúde da cidade de Pau Brasil informou que o secretário Adenilson Soares foi para o hospital acompanhado de um advogado da prefeitura para resolver a situação.

O órgão também comunicou que após ter melhorado e ido para casa, a criança acabou retornando para à unidade por volta de 0h. Com isso, o bebê foi regulado pelo estado e encaminhado para o hospital de Itabuna, já que o de Pau Brasil é de pequeno porte. Não havia enfermeira disponível no horário para acompanhar o paciente na ambulância.

Em nota, Sérgio Gomes, membro do Conselho Fiscal da Maternidade Ester Gomes, informou que a criança estava regulada para o atendimento no Hospital Manoel Novaes e indicaram o procedimento a ser feito, já que que precisava de UTI.

Também em nota, a Santa Casa de Misericórdia lamentou a morte de Levi e se solidarizou com a família da criança.

*G1



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