‘Recuperação plena’, diz bailarina trans que fez cirurgia de mudança de sexo pelo SUS na Bahia

Foto: arquivo pessoal

Em 9 de agosto de 2023, a instrutora de dança Yohana de Santana, aos 47 anos, passou por uma cirurgia transformadora em sua vida, um evento significativo para o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Yohana se tornou a primeira pessoa no estado a realizar uma cirurgia de transição de gênero pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A intervenção aconteceu em Salvador, na mencionada instituição de saúde. A paciente recebeu alta em 18 de agosto. Após quatro meses, em uma nova conversa com a Agência Brasil, Yohana descreveu o pós-operatório com duas palavras frequentemente repetidas: serenidade e naturalidade. “Parece que sempre tive esta genitália. É como se eu sempre tivesse sido assim”, expressou ela com contentamento.

Yohana enfatiza a cirurgia como uma retificação e não uma alteração. Ela destaca a naturalidade física e psicológica como partes fundamentais de sua identidade e realidade de vida. A recuperação da bailarina foi tranquila, o que ela atribui à preparação psicológica anterior ao procedimento. Tal preparação é, de fato, uma das exigências do Ministério da Saúde para a realização da cirurgia. Yohana aguardava a oportunidade de passar pela transição desde 2010, um período que lhe permitiu se informar extensivamente e se preparar mentalmente para o pós-operatório.

No Hupes, o acompanhamento psicológico continua por pelo menos um ano após a cirurgia. Yohana, que contou com o apoio de sua filha durante a recuperação, ressalta que sua jornada rumo à redesignação não é uma questão estética, mas sim de bem-estar e saúde mental.

Na época da operação, Luciana Oliveira, endocrinologista e coordenadora do Ambulatório Transexualizador do Hupes, destacou a relação entre o procedimento e a saúde mental, enfatizando a alta prevalência de depressão e ansiedade entre a população transgênero e como a cirurgia pode contribuir para o bem-estar psicológico.

Yohana, agora aos 48 anos, revela que raramente se lembra de ter passado pela cirurgia, exceto em momentos de diálogo sobre o tema. Ela define a sensação de plenitude como a alegria de se ver no espelho e se reconhecer completamente.

Antes da operação, Yohana planejava manter sua jornada discreta, mas reconheceu a importância de compartilhar sua experiência para inspirar outros em situações similares. O Hospital Universitário da UFBA, também conhecido como Hospital das Clínicas, possui um centro de cirurgia de redesignação sexual credenciado pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia e espera o credenciamento do Ministério da Saúde para expandir sua capacidade cirúrgica. A unidade já realizou um segundo procedimento de redesignação sexual no final de novembro de 2023.

No Brasil, aproximadamente 4 milhões de pessoas trans e não binárias buscam procedimentos de redesignação sexual, realizados pelo SUS desde 2010 para mulheres trans e desde 2019 para homens trans. Mais de 400 cirurgias foram feitas desde então, e pelo menos nove unidades do SUS estão credenciadas para tais cirurgias.

Recentemente, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu que operadoras de planos de saúde devem cobrir cirurgias de redesignação sexual. A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) se manifestaram sobre o tema, esclarecendo a abrangência e as implicações dessa decisão. A ANS ressaltou que o processo de redesignação sexual em sua totalidade não está no rol de coberturas obrigatórias, mas procedimentos individuais que compõem o processo podem ser cobertos quando indicados por médicos.

Fonte: Correio da Bahia



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