Jovem detido aos 16, ele voltou a estudar e hoje tem uma padaria sustentável

Via Razões pra Acreditar

Quando criança, vivendo no Capão Redondo, em São Paulo, Bruno dos Santos se perguntava sobre o destino do lixo coletado na rua onde morava.

Bruno passou parte da adolescência trabalhando com tráfico de drogas. Foi detido, e fugiu de uma unidade da antiga Febem, atual Fundação Casa. Aconselhado pelo pai, ele se entregou.

Mas, com o incentivo e a bolsa de uma organização social, o rapaz pôde estudar gestão ambiental. Em seguida, ele abriu a padaria Sustenta CaPão e hoje coordena outros dois projetos na periferia.

A seguir, confira o depoimento que Bruno dos Santos deu à Folha de S. Paulo contando mais sobre a sua trajetória:

Morava em um barraco com ela, minha mãe, meus primos, meus tios, além de quatro irmãos.

Ao completar oito anos, eu me mudei com meus irmãos para uma casa duas vias abaixo, para morar só com a minha mãe, Delma Rodrigues.

Eu a via passar as madrugadas embalando algo, mas só depois entendi que foi com o dinheiro das drogas que ela adquiriu a casa.

Eu acabei me envolvendo com o tráfico de drogas e passei a praticar furtos.

Em 2005, roubei um carro e peguei alguns objetos que estavam nele. A polícia me abordou e fui detido. Tinha 16 anos e fiquei na unidade Tatuapé da Febem [atual Fundação Casa] por seis meses. Houve uma rebelião, eu consegui fugir e voltei para casa.

Um dia, meu pai, Antonio Horacio, deu um soco na mesa e me disse: “Você tem que resolver o que quer fazer”.

Não tive grande presença paterna na infância, mas, graças a ele, assumi o controle da minha vida.

Eu me entreguei e passei mais quatro meses na Febem.

Naquela época, minha família participava de um projeto social do Instituto Rukha, que tentava ensinar autonomia financeira aos jovens.

Um dos educadores me questionou sobre voltar a estudar. Iniciei o supletivo e decidi arranjar um emprego.

Em 2007, entrei para uma empresa de limpeza urbana. Quando criança, eu adorava criar brinquedos com o lixo e, quando o caminhão chegava para recolher os sacos, sempre me perguntava para onde levavam tudo aquilo.

Era meu sonho trabalhar com o caminhão. Um ano depois, consegui virar coletor, cargo que ocupei até 2011.

Com uma bolsa concedida pelo Rukha, fiz faculdade de gestão ambiental. Em contrapartida, dava aulas sobre sustentabilidade para garotos do bairro. Daí, nasceu o projeto do Sustenta CaPão.

Juntei forças com meu irmão José Carlos de Anunciação, que é confeiteiro, e criamos a padaria em 2013.

É no quintal da casa dele que recebemos os clientes para visitas agendadas. A mesa farta foi hábito herdado de minha avó, que reunia a família em volta da mesa.

O preço do café da manhã varia de R$ 25 a R$ 50 por pessoa, e o dinheiro é usado para ampliar o ateliê.

Temos ainda dois triciclos. Um é usado para entregas e como cinema móvel, com uma TV de 50 polegadas que exibe filmes sobre reciclagem aos moradores do Capão. Já com o outro, queremos levar os produtos à região dos Jardins, na zona oeste.

Também sou curador do Cozinha São Paulo, um espaço na praça dos Arcos, na avenida Paulista, que dá a jovens da periferia a chance de vender suas criações culinárias.

E, além de fazer pós-graduação na USP em gestão de resíduos sólidos, coordeno um projeto em que famílias do Jardim Pantanal, na zona sul, podem trocar materiais recicláveis por cestas básicas.

No momento, escrevo ainda um livro para contar minhas histórias e inspirar a molecada. Quero retribuir o que já fizeram por mim.



Veja mais notícias no blogdovalente.com.br e siga o Blog no Google Notícia