Candidato surdo tem aparelho retirado por fiscais durante o Enem

Aparelho similar ao que o candidato usava durante a prova: fiscais teriam achado que se tratava de ponto eletrônico – shutterstock.com/MKstudio

Apesar de o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano ter chamado atenção para a inclusão das pessoas com deficiência auditiva, com uma proposta sobre “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, os fiscais de um local de prova na cidade de Santa Barbara D’Oeste, em São Paulo, obrigaram um candidato de 17 anos a retirar seu aparelho auditivo durante a realização do exame.

No comprovante de inscrição do rapaz, constava que ele é surdo, mas, ainda assim, ele foi obrigado a sair da sala, passar pelo detector de metais e ficar sem o aparelho usado no ouvido direito. O pai do estudante, Lourival Francisco Ribeiro, registrou um boletim de ocorrência em uma delegacia da cidade no mesmo dia.

— Meu filho estava fazendo o Enem no domingo, quando, umas 15h, os fiscais pediram para ele se levantar, passar pelo detector de metais, retirar o aparelho e colocar num saquinho plástico. Não devolveram mais e ele teve que terminar a prova assim — conta o pai, acrescentando que um episódio desse tipo nunca havia acontecido na vida escolar do filho, que estuda em colégio público. — É um trauma que ele vai levar para sempre, não vai esquecer.

CONFUSÃO COM PONTO ELETRÔNICO

Ribeiro afirma que, segundo relato do filho, os fiscais da Faculdade Anhanguera, onde ele realizava o exame, acharam que o aparelho auditivo seria um ponto eletrônico para possibilitar cola.

O menino tem surdez severa nos dois ouvidos, mas, enquanto o esquerdo não dá qualquer resposta a aparelhos tradicionais, o ouvido direito é capaz de ouvir com a ajuda do dispositivo. Na época em que foi comprado, custou R$ 6,4 mil — com desconto —, lembra o pai. Mas, depois do episódio durante a prova do Enem, o aparelho não funciona mais.

— Não sei o que fizeram com ele, mas está quebrado. E, sem o aparelho, nem tem como mandar meu filho para fazer o segundo dia de prova do Enem — lamenta Ribeiro.

O pai conta que, apesar do boletim de ocorrência, não houve até o momento qualquer retorno do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal que organiza o Enem.

Procurado pelo GLOBO, o Inep afirmou que ainda investiga o que ocorreu nesse local de prova.

*OGlobo



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