Dados de localização de celulares mostram redução no isolamento social no Brasil

Contrariando as recomendações de isolamento social do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, os brasileiros estão saindo mais de casa desde o final de março.  Todos os estados, além do Distrito Federal, registraram aumento de pessoas nas ruas nos últimos dias, na comparação com as semanas anteriores.

O levantamento foi feito pelo G1, com base em dados da In Loco, empresa de tecnologia que diz possuir informações de localização em tempo real de 60 milhões de smartphones no Brasil.  A In Loco se baseia em dados enviados por aplicativos parceiros, e afirma que eles só são utilizados com a permissão dos usuários dos apps.

Foram consideradas 5 semanas, no período de 3 de março a 6 de abril. Nesse período, houve aumento do isolamento durante as 4 primeiras semanas. Em todos os casos, a primeira semana (3 a 9 de março) registrou índices de isolamento entre 20% e 30%. Na semana seguinte (10 a 16 de março), os valores subiram, e ficaram entre 27% e 40%.

Um aumento mais consistente pôde ser observado na semana de 17 a 23 de março, quando a quarentena passou a ser recomendada com mais ênfase. Nesse período, os estados registraram índices de isolamento entre 38% e 53%.

O pico do isolamento social, no entanto, foi alcançado na semana de 24 a 30 de março, quando todos os estados, com exceção de Roraima e Tocantins tiveram pelo menos 50% dos smartphones monitorados sem movimentação considerável.  Na última semana analisada, no entanto, entre 31 de março e 6 de abril, as 27 unidades da federação apresentaram redução nos índices de isolamento.

No mais recente pronunciamento na rede nacional de televisão, na última quarta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar as medidas de isolamento social, e considerou que elas são de “responsabilidade exclusiva” dos governadores.

A importância do isolamento

Em entrevista ao G1, o médico infectologista Julio Croda, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirmou que está desenvolvendo um estudo que pretende estimar a falta de leitos hospitalares e UTIs de acordo com o aumento de deslocamento de pessoas. Ele utiliza os dados da In Loco.

“Estamos fazendo pesquisa tentando validar índices de isolamento para predizer o número de casos no futuro. Como o isolamento é a melhor medida de controle no número de casos, talvez esse índice de isolamento captado por celulares seja um bom indicador para prever casos no futuro”, afirma.

“Queremos saber o quanto o isolamento social diminui o número de casos. Podemos dizer que com 58% de isolamento, o número de casos diminui? Ou não, que com 58% de isolamento, os casos seguem aumentando?”, completa.

Croda explica que atualmente os modelos matemáticos usam dados de casos confirmados para prever o aumento das transmissões de coronavírus. Mas, segundo ele, este método tem problemas. “Como projetar se você não entende quantos casos têm no momento? A maioria das modelagens matemáticas trabalham com o número de casos confirmados, mas isso tem o problema da subnotificação, devido à falta de testes”, diz.

Ele cita como exemplo dados de Manaus. Os dados apontam que, em 6 de abril, a capital do Amazonas tinha 50% das pessoas em isolamento. Nesta quarta-feira (8), Manaus registrou 58% de isolamento após a veiculação de notícias sobre o aumento de casos e um possível colapso do sistema de saúde.



Veja mais notícias no blogdovalente.com.br e siga o Blog no Google Notícia