Mãe registra reações de bebê ao experimentar cem alimentos diferentes; Confira

Fotos e vídeos são publicados em blog; Bernardo tem dez meses de vida.
Método é inspirado no baby-led-weaning, que dispensa comida amassada.
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A gente deixa ele explorar. São entre 30 e 40 minutos com cada comida, mas não é desgastante, porque enquanto ele está comendo a família toda está comendo também. A gente põe ele na cadeira, põe os alimentos disponíveis, e, enquanto ele está explorando, a gente está comendo todo mundo também. Enquanto todo mundo se serve, come etc. ele está lá no tempo dele”

Aproveitando a receptividade de bebês para conhecer novos sabores, a enfermeira brasiliense Marília Borges se lançou o desafio de apresentar cem alimentos saudáveis ao filho Bernardo até o primeiro ano de vida. O método escolhido foi inspirado no baby-led-weaning (desmame liderado pelo bebê, em tradução livre), que dispensa papinhas e comida amassada. A experiência é registrada em fotos e vídeos, postados na web, junto com os “resultados”.

Os “testes” começaram no dia em que Bernardo completou seis meses. Até esta sexta-feira (1º), quando o pequeno somava dez meses, ele já havia experimentado 60 alimentos. Na lista constavam itens como guacamole, tapioca, espinafre, hambúrguer de lentilha, biscoito de arroz integral e abacate.

Entre as preferências do menino estão bolinho de milho, banana com maracujá, vagem, brocolis e o feijão. “No começo, como nunca comeu nada, vai um monte de uma vez. Agora, a gente repete muito”, conta a enfermeira.

“Desde antes de engravidar eu já conhecia sobre o método BLW. Quando eu engravidei, já tinha essa ideia de que quando eu fizesse a introdução alimentar fosse de forma mais participativa possível”, explica Marília. “O primeiro alimento foi abacate, porque eu detesto abacate, mas acho que é um alimento riquíssimo em minerais e vitaminas. Eu lamento muito não gostar. Ele não gosta muito, mas mesmo assim eu continuo oferecendo.”

Para escolher as primeiras comidas, a enfermeira e o marido testavam a possibilidade de conseguir esmagá-las com o céu da boca. O cuidado era necessário já que Bernardo ainda não tinha dentes. Outros alimentos eram cozidos até o ponto em que estivessem “moles”. A ideia é que a criança tenha o máximo de autonomia durante o processo.

“A gente deixa ele explorar. São entre 30 e 40 minutos com cada comida, mas não é desgastante, porque enquanto ele está comendo a família toda está comendo também. A gente põe ele na cadeira, põe os alimentos disponíveis, e, enquanto ele está explorando, a gente está comendo todo mundo também. Enquanto todo mundo se serve, come etc. ele está lá no tempo dele”, diz.

O menino faz os “testes” em uma cadeirinha própria para alimentação, e as refeições são colocadas diretamente na bandeja à frente. “Não tem pressa, a gente coloca e deixa. Deixa ele ficar até a hora que encerra mesmo ou que ele pede para sair. Nunca forcei ele na cadeira, não. Se ele quiser comer, come. Se não, a gente tira.”

Para Marília, entre as principais vantagens do método está o fato de toda a família poder comer ao mesmo tempo – sem que o pai ou a mãe tenham que se revezar no almoço, por exemplo, para depois um deles alimentar o neném – e de Bernardo aprender a reconhecer alimentos “no estado natural”.

“Às vezes a gente coloca coisas na bandeja para ele, e ele vê que tem outra coisa na mesa e quer. Por exemplo, ele estava almoçando, e a babá foi comer uma melancia na frente dele. Ele ainda estava no almoço, mas ele quis a melancia. Às vezes eu entro com ele na cozinha no colo, e ele se joga na fruteira”, lembra.

“Uma das coisas diferentes de você fazer uma alimentação participativa é que a criança relaciona o alimento ao alimento inteiro. Ele não come papinha. Ele vê maçã e sabe que é maçã, mesma coisa a banana. Quando ele vê a fruta, ele sabe que é a que ele come”, completa a enfermeira.

A enfermeira conta que teve a ideia de criar o blog para ter um registro da experiência e para poder compartilhá-la com a família. Amigas começaram a marcar conhecidos, que passaram a tirar dúvidas e a comentar nas publicações. “Coloquei outras coisas, como meu relato de parto, para ficar como uma lembrança para ele no futuro.”

 

Comida de verdade 
A enfermeira afirma que sempre teve o cuidado de escolher para Bernardo alimentos adequados para crianças. Tudo o que é inadequado para até o primeiro ano de vida, como mel, industrializados e açúcar ficam de fora da introdução. “O que não é recomendável, eu vou dar. As outras coisas a gente vai oferecendo.”

“Mais para frente ele vai começar a comer produtos alimentares, como bolo, pão. Vou tentar fazer bolo caseiro, que não leva açúcar. E industrializados, de forma alguma. Se é para comer, vai ser comida de verdade. Não como nem eu,  imagina se vou dar para uma criança”, completa.

Marília, que é vegetariana, também optou por não dar carnes ao menino enquanto for responsável pela alimentação dele. Ela disse, porém, que vai respeitar caso ele escolha comer no futuro.

“A gente vai perceber se ele é ou não mais receptivo a partir de 1 ou 2 anos, aí a gente vai ver se ele está colhendo ou não os frutos disso. Até 1 ano a criança vai comer o que a gente oferecer para ele. O Bernardo já conhece os alimentos que a gente dá para ele. Então, se eu estou comendo uma pera na frente dele, ele olha, mas ele não pede. Ele não estica a mãozinha, ele olha, vê, observa o que estou fazendo. Agora, se eu pegar uma laranja na frente dele, ele avança. Ele fica ‘anh, anh, anh’, estica a mãozinha, quer, e se você não der para ele, ele vai chorar. E isso não sou eu, é qualquer pessoa.”

“Acontece com os alimentos que ele conhece, e isso é legal, porque ele já começa a associar a vontade de comer com alimentos saudáveis. Ele vê uma fruta, ele sente vontade de comer. Isso eu acho positivo, a aceitação. Quanto a paladar varia muito. Ele devorava manga, mas agora não aceita de jeito nenhum. A bola da vez é maçã e laranja, ele, se puder, come o dia inteiro.”

A enfermeira diz esperar que, por meio da experiência, o filho aprenda a fazer escolhas conscientes e saudáveis quando estiver mais velho. Ela conta que toda a família acabou se adaptando e que o marido e a enteada, de 10 anos, aceitaram bem a ideia de evitar beber durante as refeições. Refrigerante é item raro na casa da família.

“Crianças são excelentes imitadores. Ele vai crescer, vai observar o que eu como, o que o pai come, o que a avó come, e isso vai ser um hábito. Então, dentro de casa, principalmente na presença dele, vou incentivar o máximo possível esse hábito alimentar saudável. Vou incentivar, porque a gente tem que construir o homem, não reprimir vontades. Estou aqui para apresentar o mundo de uma forma saudável. Não posso dizer para ele não comer porcaria e ficar me entupindo de porcaria”, explica.

“Não é só não pode, mas ‘filho isso é bom para quê? É bom para isso. Eu tenho essa fruta que é bom para o meu crescimento saudável e esse biscoito que é só de açúcar e farinha. Qual é o melhor?’ A gente subestima as crianças na capacidade de escolher. Mas não pode ser assim, porque eles são muito espertos”, completa Marília.

 

Contra transtornos alimentares
A enfermeira conta que a mãe era obesa e que sempre foi uma criança gordinha. Aos 14 anos, desenvolveu anorexia. “Quando a gente tem um transtorno alimentar, seja para obesidade, seja para anorexia, você carrega isso para o resto da vida. O meu maior incentivo de desenvolver isso com meu filho é que ele tenha uma relação saudável com a comida.”

Marília lembra que por muitos dias chegou a comer uma única vez, pensando no quanto iria engordar se ingerisse outros alimentos. Para ela, parte do problema também está no fato de que as pessoas “ignoram” os sinais do organismo e se forçam a comer além, mesmo já saciados, quando ainda resta comida no prato, por exemplo. Além disso, há uma questão cultural: encontros familiares e com amigos sempre são regados a um banquete. Não comer é ser visto até como mal-educado.

“Também há a questão de ver comida como recompensa, de pensar no sorvete, por exemplo, para um dia especial. A gente associa emoções a comida. Isso a gente vê nas nossa propagandas. Propaganda de sanduíche tem toda aquela emoção, refrigerante sempre tem aventura, muito divertido, muito legal”, diz.

“Tudo que você associa a emoção a pessoa vai viciar naquilo. Foi assim com cigarro. As propagandas de álcool são assim. Se você sabe que o açúcar provoca as morbidades que tem provocado na nossa sociedade, tanto em adulto como em criança, ele deveria ser tratado como uma droga. Ele não é necessário para a nossa dieta. Ele é totalmente dispensável”, conclui.

 

Fonte: G1



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