Você está lendo essa reportagem pelo celular? Então, pode sofrer de uma doença e nem saber. Conheça a Nomofobia, o ‘mal do século’

Atire a primeira pedra. Quem não escolhe o barzinho do fim de semana pelo wifi liberado? Quem não pede o whatsapp na hora da paquera ao invés do número de contato? Hoje não estamos mais “vivos”, estamos “online”.

E toda essa dependência, segundo estudiosos, virou uma prisão. Estudos internacionais apontam que o vício em aparelhos eletrônicos e internet provoca transtorno, chamado de nomofobia.

Pesquisas realizadas na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, revelam que a dependência de aparelhos eletrônicos é semelhante ao vício em drogas e alcoolismo. O estudo foi realizado em 10 países. Mil jovens entre 17 e 23 anos foram desafiados a ficar sem internet, redes sociais e TV por 24 horas.

Segundo a pesquisa 79% dos jovens apresentaram sintomas como; confusão mental, desconforto, isolamento e até mesmo coceira – sintoma comum em dependentes químicos que estão em processo de luta contra o vício. Muitos atingiram níveis altos de estresse apenas pelo fato de não poder tocar no smartphone. No Brasil, 18% dos entrevistados assumem dependência dos seus aparelhos eletrônicos.

O termo nomofobia surgiu no Reino Unido em 2008 e classifica pessoas que não conseguem desgrudar da tecnologia nem por um instante. Uma pesquisa feita pelo The Royal na Inglaterra avaliou que 58% dos britânicos e 48% das britânicas sofrem de nomofobia.

DEZ HORAS DE PÂNICO:

“Isso só pode ser coisa do demônio”. Esta é a especulação feita pela estudante baiana de publicidade, Amanda Abreu, 24 anos. Após viver a experiência de passar dez horas desconectada das redes sociais, ela chegou a este veredito citado acima. O aparelho da jovem apresentou um problema técnico, o que a impediu de acessar seus aplicativos.

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Durante a experiência, ela mesmo percebeu sintomas como mau humor, isolamento, estresse, ansiedade e desespero. “Eu virei um monstro. Não queria falar com ninguém. Só sabia reclamar, era uma espécie de TPM tecnológica, sei lá. Eu senti as mesmas alterações que sinto na TPM e ter o meu celular de volta é o mesmo que comer uma barra de chocolate quando você está naqueles dias”, exemplifica.

Mesmo com seu smartphone em “coma”, Amanda não parava de olhar para ele, “mesmo sabendo que não estava funcionando, entre uma coisa e outra eu olhava o celular. Eu até pensei: “vou ler”, “estudar”, mas não conseguia fazer nada além de esperar ele voltar ao normal”, relata a estudante.

Porém este não é um comportamento exclusivo de quem está com problemas de conexão. Segundo pesquisa realizada pela empresa Locket, em média desbloqueamos a tela do aparelho 110 vezes por dia. O resultado foi baseado nas informações dos 150 mil entrevistados.

Ainda conforme o estudo, não chegamos aos 10 minutos de nossos dias sem dar uma espiadinha de leve, mesmo sem ter recebido nenhum tipo de notificação.

Esta necessidade de estar conectado o tempo todo faz parte de um novo fenômeno, o “não quero ficar de fora”. O sentimento de pertencimento, de poder viver várias experiências online ou até proporcionar momentos offline por meio de interações virtuais.

“Na verdade meu maior medo era de ficar de fora, seja das resenhas dos amigos, das ações promocionais que eu me candidato por grupos de whatsapp, ou até de encontros presenciais que são marcados através de redes sociais. Eu sinto como se estivesse perdendo algo, como se tivesse morrido”, desabafa Amanda.

O sofrimento da estudante foi maior também pelo fato de concentrar suas conexões de trabalho em redes sociais. “Para mim não é só contato com amigos, é negócio também. Sinto como se estivesse perdendo dinheiro, porque está tudo concentrado lá”, explica.

Passadas dez horas de terror, Amanda Abreu finalmente sentiu o alívio de ter a vida de volta, como se fosse uma espécie de ressurreição, só que tecnológica. “Nossa! Eu fiquei muito feliz quando meu celular voltou a funcionar, pulei de alegria, gritei tanto, foi pura felicidade”, descreveu.

TEORIAS DE PATOLOGIAS:

Na contramão das pesquisas internacionais que atribuem total vilania e responsabilidade por distúrbios psíquicos aos usuários da tecnologia digital, o especialista em comunicação e estudioso de mobilidade digital, Marcello Chamusca acredita que não há patologia nesta relação com as tecnologias digitais. “Não existe vício. Apenas criamos um hábito e não entendemos algo que fuja disso”, explica.

Para o especialista existe uma teoria de patologias para “incriminar” o mundo digital, “sou cético em relação a tudo que relaciona patologia a hábito. Olhar apenas o lado negativo é muito simplista, é necessário discutir amplamente. Não podemos demonizar a tecnologia digital atribuindo todos os problemas da sociedade contemporânea a ela”, afirma Chamusca.

O especialista convida para um experimento que comprova sua corrente de pensamento, “eu acredito em tudo que se diz a respeito das reações físicas e psicológicas, mas isso está relacionado a privação de uma necessidade. Peça para uma dona de casa acostumada a assistir novela todos os dias para parar de assistir por um determinado tempo. Ela certamente vai apresentar desconforto e reações adversas, assim com as apresentadas nas teorias patológicas”, diz.

Ainda conforme Chamusca a relação com o meio digital é diferente entre gerações que viveram antes da internet e os jovens que nasceram inseridos no boom digital. “Para os jovens que não conhecem o mundo sem internet é complicado, é desconhecido. Para eles o mundo não faz sentido”, avalia.

O Aratu Online elaborou um teste rápido para você saber se sofre ou não de nomofobia.

  1. Sente ansiedade quando esquece o celular em casa?
  2. Consegue ficar sem internet por dois dias?
  3. Fica angustiado quando não recebe mensagens e verifica o tempo inteiro o celular?
  4. Sente-se rejeitado quando não te telefonam ou quando seus amigos recebem mais mensagens que você?
  5. Quando está sem conexão ou sem bateria sente que sua vida acabou, ficando angustiado, ansioso e inseguro?
  6. Quem nunca dormiu com o celular do lado? Ou foi ao banheiro e levou seu companheiro, mais conhecido como smartphone? É capaz de esquecer as calças na hora de sair, mas não esquece o celular.

Se a sua resposta foi sim para a maioria das perguntas, calma! Só é considerado nomofobia a partir do momento que gera prejuízo mental ou físico, mas é claro que esse comportamento, mesmo que ainda não seja um transtorno do controle dos impulsos, como é classificada a fobia de ficar longe da tecnologia, está bem distante de um comportamento adequado. Mas fique tranquilo, já existem tratamentos para este transtorno.

De acordo com pesquisa realizada na Coreia do Sul os efeitos danosos podem atingir o cérebro. Pode provocar o desgaste da bainha de mielina (uma substância branca que envolve o neurônio e aumenta a velocidade de condução do impulso nervoso).  Essa consequência havia sido observada em pessoas que consomem abusivamente drogas, mas não tinha sido identificada em dependentes digitais. O tratamento deste transtorno é baseado principalmente em psicoterapia.

Outra forma de se tratar é simples. Desconecte-se agora mesmo do seu celular e vá viver a vida! (Aratu Online)



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