Caso Daniel Alves: veja como foi o terceiro dia do julgamento do jogador

Julgamento de Daniel Alves
Foto: Reprodução/Instagram

Acusado de ter estuprado uma mulher em uma boate de Barcelona, Daniel Alves prestou depoimento nesta quarta-feira (7), no terceiro dia de julgamento do caso.

O jogador falou por cerca de 20 minutos, respondendo apenas a perguntas de sua advogada, Inés Guardiola.

Chorou bastante e afirmou que bebeu excessivamente naquela noite, mas negou o estupro, que teria ocorrido em dezembro de 2022.

O brasileiro disse que saiu para comer com alguns amigos, por volta das 14h30.

“Fazia muito tempo que não nos víamos então ficamos mais tempo. Pedimos 5 (garrafas) de vinho, um uísque, um saquê. [Tomei] mais ou menos uma e meia, duas garrafas de vinho, um copo de uísque”, falou. Em seguida, Daniel Alves afirmou que foi para um bar com os amigos, onde tomaram “uma rodada de gin tônica”.

A informação do consumo de álcool é importante para a estratégia da defesa do jogador. Ao alegar embriaguez, a advogada Inés Guardiola sustentaria que o acusado “não tinha plena consciência do que fez”.

“Quando saímos de lá, fomos ao Sutton. Eu e Bruno [Brasil, um dos amigos] seguimos, os outros foram para casa. Entre 2h a 3h da manhã”, seguiu.

O jogador falou que dançou um tempo com duas mulheres e que, depois convidaram outras três – entre elas, a denunciante.

“Sim, acho que elas sabiam que era eu, porque mais de uma vez me pediram para tirar foto”.

Na sequência do depoimento, Daniel Alves afirmou que dançava com a jovem de forma sensual, e que ela “começou a dançar mais perto, esfregando suas partes contra as minhas.

Ela colocou a mão para trás e começou a tocar minhas partes”. O brasileiro também disse que não forçou a denunciante a acompanhá-lo ao banheiro, local onde teria ocorrido o estupro.

O atleta descreveu como teria sido a relação, inclusive com penetração – repetindo a sua quarta versão sobre o caso. Também voltou a negar o estupro, e disse que foi consensual.

“Baixei as calças, sentei no vaso sanitário, ela se ajoelhou e começou a me fazer sexo oral. Ela estava na minha frente e começamos a relação. Lembro que ela sentou em mim. Não sou um homem violento. Não a forcei a praticar sexo oral forçadamente. Ela não me disse nada. Estávamos desfrutando os dois e nada mais”.

A advogada de Daniel Alves perguntou se o que ele declarava naquele momento é o mesmo que contou na audiência de instrução. O brasileiro admitiu que mentiu na primeira versão, quando afirmou que não teve contato nenhum com a denunciante, porque não queria “poderia pegar mal” com sua esposa, a modelo Joana Sanz.

O atleta também falou que que soube da denúncia pela imprensa. Neste momento, começou a chorar e pediu água.

“O mundo desabou sobre mim. Eu estava praticamente arruinado porque minha conta no Brasil havia sido bloqueada e perdi todos os meus contratos”.

Questionado sobre ter falado com a denunciante depois de terem saído do banheiro, Daniel Alves disse que não voltou a vê-la, nem suas amigas.

“Bruno me levou para casa. Quando cheguei, lembro que ela [a esposa] estava em casa na cama e dormi na sequência”, finalizou.

Antes das falas do jogador, a audiência começou com os depoimentos de médicos e psicólogos que atenderam a denunciante antes e depois do ocorrido.

Os profissionais alegam que não houve lesão vaginal, mas minimizam esse fato.

“Cerca de 70% das mulheres que sofrem agressão sexual não têm lesões vaginais”, disse um deles. Ou seja, sexo não consensual não necessariamente provocaria ferimentos na região.

O grupo de médicos, porém, divergiu em alguns pontos. Uma das médicas indicou que a denunciante apresenta sintomas relacionados a estresse pós-traumático, inclusive ficando “muito nervosa ao escutar alguém falar português”. No entanto, uma psicóloga contratada pela defesa de Daniel Alves afirmou que os dados recolhidos nos exames foram superficiais, e que os sintomas estão mais ligados a um transtorno de ansiedade.

A audiência prosseguiu com a visualização dos vídeos recolhidos durante a investigação. A imprensa não pôde ver as imagens, mas conseguia escutar alguns áudios. Em um deles, foi possível ouvir frases como “ele me bateu, me jogou no chão”.

Defesa x acusação

A audiência desta quarta-feira (7) marcou o último dia de depoimentos. Após todos os testemunhos serem ouvidos, foi a vez das considerações finais.

Advogada da denunciante, Ester García enfatizou um cenário de violência, afirmando que Daniel Alves pegou a mulher pelo cabelo com força, forçou a fazer sexo oral, deu tapa na cara, a penetrou por trás e ejaculou dentro e fora.

A promotoria também rebateu o jogador estar embriagado na boate.

“Pelas câmeras, quando ele entra, você vê perfeitamente uma pessoa caminhando normal, acenando para a recepcionista, para os garçons. Quando ele vai embora junto com Bruno, cercado pelos seguranças, não se vê ele cambaleando. Estava normal”.

A advogada ainda criticou Daniel Alves, a quem apontou ter “se colocado numa posição totalmente de vítima”, e reforçou o pedido pela pena máxima, de 12 anos de prisão.

“Não é não. Ela disse ‘quero ir já’. Ele sabia que ela não queria pois ela tinha manifestado. Ele deu tapas na cara. Ato de humilhação”.

Já a advogada do jogador, Inés Guardiola, falou que ele “não se limitou a dar uma versão”, e que “está verificado por elementos periféricos”. Afirmou que a dança “cada vez mais juntos” mostrava o “interesse” da denunciante.

“A violência descrita pela denunciante na penetração é incompatível com a prova pericial médica. Nenhum ferimento nas suas genitais interna ou externa. Corrobora que a relação sexual foi consentida”, falou.

Inés também disse que apenas uma impressão digital da denunciante foi encontrada na cisterna, afirmando que “é impossível” essa digital pela postura que a mulher descreveu.

Também negou que Daniel Alves tenha batido na jovem, o que chamou de “uma tentativa de apresentar o senhor Alves como um perseguidor”.

“Não tinha nenhuma vermelhidão nem sinal. É incompatível com a mecânica que descreve”.

Ao fim, a advogada de Daniel Alves pediu a absolvição do jogador, assim como a liberdade condicional para ele, com a retirada dos passaportes do Brasil e da Espanha. O tribunal vai decidir posteriormente se aceita ou não a demanda.

Não há prazo definido para a apresentação da sentença final. De acordo com a imprensa espanhola, a decisão pode sair dentro de um mês.

Cabe recurso no Tribunal de Apelação, segunda instância da Justiça espanhola.



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