Com o comércio aberto desde abril, LEM tem uma das taxas de isolamento mais baixas; entenda

Não é impróprio dizer que Luís Eduardo Magalhães é a cidade mais bolsonarista da Bahia. É o único município entre os 417 do estado em que Jair Bolsonaro seria eleito ainda no 1º turno de 2018, com 54,5% dos votos.

Lá, a receita que o presidente preconiza para enfrentar a covid-19 tem sido seguida à risca: isolamento vertical – apenas dos que estão em grupos de risco – e comércio funcionando.

A impressão é que o coronavírus pouco alterou o dia a dia de quem vive na capital do agronegócio baiano. A pandemia chegou nas primeiras semanas da colheita de soja, no início de março. Depois veio a do milho e agora a de algodão.

Todos os anos, esse é o período de maior fluxo de pessoas na cidade. “São quase 2 mil carretas por dia. E além dos motoristas, temos muitos ajudantes”, cita Ítalo Aleluia, professor de Saúde Pública da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob).

Pujança no campo e na zona urbana. O comércio está aberto desde 1º de abril. Foram só oito dias de fechamento, no final de março. De lá para cá, somente a exigência de uso de máscaras e de álcool em gel.

Numa cena rara para o restante do estado, as mesas de bares e restaurantes continuam recebendo clientes, desde que as portas fechem às 22h. E dentro, além da máscara, todos têm que respeitar a distância de 2 metros para o outro.

Na prática, o que está proibido são eventos e aulas. De resto, vida próxima do normal: “Sinto como se só eu estivesse de isolamento. O povo está todo na rua, como se nada estivesse acontecendo”, reclama Patrícia Reys. A estudante da Ufob é natural de Manaus, e diz se irritar com a postura dos vizinhos:

“Há uma negação total do perigo da covid, dizem que é jogada política. Tento conscientizar as pessoas citando como exemplo a minha cidade. Lá, não deram importância e o Brasil viu a tragédia”, lamenta Patrícia.

A sensação é compartilhada por quem se sente seguro em Luís Eduardo Magalhães: “A pandemia não afetou em nada a cidade. São poucos casos até agora, quem pegou foi tratado com cloroquina e já tem muitos curados. Sou professor em escola de idiomas e sigo trabalhando”, relata Elizeu Adriano, citando a substância de eficácia não comprovada contra a covid-19.

“Eu acredito que aqui, sim, está sendo aplicado o isolamento vertical. Quem é do grupo de risco está em casa; quem não é, segue a vida normal. Quem vive aqui veio para trabalhar. Então o povo é mais sério e é mais fácil de seguir os cuidados”, completa Elizeu.

Todo esse cenário aparece muito claramente nos dados. A cidade da região Oeste, a 1 mil quilômetros de Salvador, tem as taxas de isolamento mais baixas entre as 30 maiores da Bahia.

Em números: a média da taxa de isolamento de LEM durante a pandemia é de 34,5%. A da Bahia, de 43,7%. Os dados são da empresa InLoco, que monitora o deslocamento de celulares.

A diferença para o período anterior ao coronavírus é mínima: em fevereiro, a média de isolamento foi de 28%. Em junho, essa taxa ficou em 32%. Quatro pontos percentuais de diferença.

O que chama atenção é que os casos se multiplicaram em junho. No dia 1º, eram 41 contaminados. Atualmente, Luís Eduardo tem 434 infectados. Além disso, todas as seis mortes no município ocorreram nesse período.

Correio24horas



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