Se controlar as finanças já é um hábito raro para os brasileiros, com a crise econômica, a tarefa é mais difícil ainda. Consultores financeiros, porém, são enfáticos: a mudança de atitude é necessária para evitar o caos no orçamento. Por isso, o EXTRA selecionou 20 dicas de especialistas para ajudar o leitor a colocar e manter o orçamento em dia.
O consultor financeiro Rodrigo Bussab explica que, em geral, os jovens costumam ter mais controle sobre as finanças do que os mais velhos.
— O real deu uma estabilidade ao sistema monetário brasileiro que o país não tinha de 1994 para trás. Antes disso, houve troca de várias moedas, confisco de dinheiro… Os jovens já começaram a ganhar sua remuneração em moeda estável. Então, esse pessoal tem mais possibilidade de ter um orçamento bem feito — comparou.
Ainda assim, segundo uma pesquisa divulgada em dezembro, pelo SPC Brasil, três de cada dez jovens brasileiros, com idades entre 18 e 30 anos, não fazem o controle financeiro. Isso porque, afirma o levantamento, 76,4% dizem que fazem as contas das despesas apenas de cabeça. O assistente administrativo Talles Gomes, de 29 anos, faz parte dessa parcela da população:
— Eu não os controlo de forma contínua, mas sempre tenho em mente minhas despesas e minhas receitas. Mas, uma vez ou outra, eu anoto, no papel, meus gastos feitos a longo prazo, fixos e variáveis.
O funcionário público conta que tem duas rendas: uma de seu salário e outra de um trabalho extra. Esta última vai direto para a poupança. Mas, da principal, ele reconhece que raramente consegue reservar uma parte justamente pela falta de um controle efetivo:
— Sem anotar, é difícil poupar porque acabamos gastando além do que imaginamos. Às vezes, o dinheiro vai embora em pequenas coisas.
Com a crise econômica, essa falta de planejamento — e, consequentemente, de poupança de grande parte dos brasileiros — tem grandes chances de gerar uma bola de neve devido à maior possibilidade de perdas de renda e de emprego.
— O mercado de trabalho, de modo geral, não está confortável. Todo mundo conhece alguém que foi demitido, está sujeito a ser ou está em férias coletivas. Então, as pessoas devem ser mais conservadoras quanto aos gastos, quanto a assumir compromissos. Todo cuidado é pouco nesse momento de crise — alertou o especialista em finanças Alexandre Prado.
ENTREVISTA: Alexandre Prado – Consultor especialista em finanças
Por que é tão difícil para a maioria das pessoas controlar as finanças?
O erro mais básico é a pessoa não saber quanto ganha e quanto gasta. Para resolver isso, é preciso olhar quais são as fontes de renda e pôr os gastos na ponta do lápis.
Como organizar isso?
Uma dica que costumo dar para meus alunos é: se a pessoa está gastando mais do que pode, estruture os gastos em três níveis: imprescindível, importante e supérfluo. O imprescindível inclui aluguel, energia elétrica, comida etc. O que é importante? TV a cabo, pacote de dados no celular… E o supérfluo? Ir ao cinema, comer uma pizza todos os fins de semana ou ter uma segunda linha telefônica. A pessoa, assim, vai conseguir entender seu custo de vida e nortear que ação terá que implementar. Eventualmente, poderá mudar o pacote de TV a cabo ou reduzir o pacote de internet, por exemplo… É o que tratamos como cortar na carne.
Qual a melhor forma de fazer essa organização?
O que for mais confortável para cada um. Pessoas mais jovens, que trabalham com computadores, costumam preferir uma planilha. Agora, ainda há aquelas que preferem o caderninho.
ENTREVISTA: Rodrigo Bussab – Consultor financeiro com certificado internacional
Como começar a controlar as finanças?
Para quem tem acesso a uma planilha de Excel, ou tem um caderno que seja, basta lançar o que entra e o que sai de dinheiro. Parece um controle básico, mas dá uma noção do que você ganha e do que você gasta. Aí, a pessoa vê, por exemplo, se está indo muito à padaria para tomar café e comer pão na chapa e gastando R$ 3 mil por ano com isso.
Há uma espécie de test-drive para quem nunca teve o hábito de fazer esse controle?
Eu sugiro fazer o teste dos 30 dias: chame seu núcleo familiar financeiro e faça todo mundo anotar suas despesas durante um mês, desde o café na padaria. Você verá despesas que podem ser cortadas.
Quais são os erros mais comuns que levam ao descontrole financeiro?
Um deles é gastar o dinheiro que ainda vai entrar. É o 13º salário, que algumas pessoas já gastaram, por exemplo, lá em setembro. Outro é a falta de metas. As pessoas têm que ter planos de longo, médio e curto prazos. E pense nos planos de longo prazo e traga-os para o curto prazo. Por exemplo: o que eu preciso fazer para chegar à aposentadoria e ter dinheiro? Outro erro é a falta de disciplina. O brasileiro, em geral, não tem.
Ibahia