Será preciso muito mais que panelas e guarda-roupas inteiros de camisas da CBF manchadas de sangue para estancar a sangria de um país que já vem seguindo sem rumo, sem comando e, caso esse acidente não seja a fatalidade que preferimos que seja – tomara que não seja-, sem mais nenhuma dignidade para seguir em frente.
Ministro do Superior Tribunal Federal, STF, no gabinete de Teori Zavascki existe um acervo de 7.566 processos, sendo 12 ações penais e 65 inquéritos, a maioria contra políticos e autoridades com o chamado foro privilegiado.
Um desses processos, era a homologação da delação premiada de 77 ex-executivos da Odebrecht enviadas pela PGR no dia 19 de dezembro. A homologação estava prevista para o início de fevereiro, na volta do recesso no STF. Era o último passo antes da homologação, ato de validação judicial dos acordos, que autorizaria o procurador-geral da República a pedir novas investigações sobre o esquema de corrupção.
São cerca de 300 nomes mencionados nos documentos apreendidos pela Polícia Federal durante a 23ª fase da Operação Lava Jato. Acredita-se que, nas delações, mais de 500 nomes, entre eles o do Presidente da República e de Ministros do seu Governo, estariam “contemplados”.
Teori Zavascki morreu na última quinta-feira aos 68 anos, em um acidente aéreo no litoral do Rio de Janeiro. O avião era pilotado por um profissional experiente, mas as condições climáticas, segundo especialistas em aviação, eram favoráveis a uma tragédia.
Muitos dizem que é cedo para afirmar que a morte do Ministro peça-chave para o prosseguimento da maior investigação sobre corrupção e lavagem de dinheiro da história do Brasil, seja suspeita. Delegados e promotores vinculados com as investigações pedem apuração minuciosa e rápida. A internet se delicia com as demais teorias de conspiração. Afinal, historicamente, o Brasil coleciona fatos e tragédias pontuais, semelhante a essa, envolvendo políticos e autoridades, de crimes e suicídios envoltos em mistérios até acidentes inexplicáveis.
É preciso, o quanto antes, que o resultado dessa investigação seja exposto. Que a morte de Teori Zavascki não entre no rol das fatalidades e mistérios no catálogo de tragédias brasileira. É preciso, com urgência, estabelecer as regras do jogo, caso fique comprovado de alguma forma que o acidente, na verdade, foi um assassinato.
E muitas mentes seriam beneficiadas pelas mãos que pode ter tirado a vida do Ministro, caso se comprove algo.
A morte de Teori Zavascki não pode ser aquela história que contaremos aos nossos filhos e netos no futuro. Ou que o Fantástico, daqui a 10 anos, faça uma matéria especial apresentando fatos novos que mudem o rumo das investigações. Tudo precisa ser claro. Pra polícia, na mídia e, em especial, para o povo brasileiro. Isso, sim, é urgente.
Não podemos sair do foco, ocupando os espaços da mídia com questionamentos “se a Lava-Jato segue ou não.” A Lava-Jato segue porque a constituição diz que ela – e todos os processos sob a guarda de Zavascki – devem prosseguir.
Precisamos falar da morte. Esse caso merece atenção e cobrança diária. Esse acidente precisa ser elucidado com toda a eficiência e dinâmica de uma Polícia Federal cada vez mais atuante e combatente, para que a população sinta-se segura daqui pra frente. Que culpados, se existir, sejam enjaulados e desmoralizados – ainda mais.
Do contrário, será preciso muito mais que panelas e guarda-roupas inteiros de camisas da CBF manchadas de sangue para estancar a sangria de um país que já vem seguindo sem rumo, sem comando e, caso esse acidente não seja a fatalidade que preferimos que seja – tomara que não seja-, sem mais nenhuma dignidade para seguir em frente.
Edgard Abbehusen é estudante de jornalismo da UFRB e mantém um perfil no Instagram onde escreve textos, crônicas e poesias, o Fotocitando.