As semelhanças entre ‘O Rei do Gado’ e ‘Velho Chico’

O mestre Chacrinha já dizia: “Na televisão, nada se cria, tudo se copia”. Essa frase é ainda mais real nas novelas, que sempre exploram os mesmo clichês e formatos já aprovados pelo público. Alguns autores possuem estilos bem conhecidos que se repetem em vários folhetins, como Manoel Carlos com suas Helenas passeando pelo Leblon, ou Walcyr Carrasco com suas tramas de época bem humoradas e personagens caipiras.

Benedito Ruy Barbosa, criador de Velho Chico, não foge à regra. Apesar de o folhetim ser escrito primariamente por Edmara Barbosa (filha do autor) e Bruno Luperi (neto do autor), Ruy Barbosa é o criador da história, quando entregou a primeira sinopse em 2009, e supervisiona os textos dos pupilos. A trama é repleta de temas tipicamente explorados nos folhetins do veterano, como dramas e batalhas familiares, a preferência por locações interioranas, e questões políticas.

A atual novela das nove, que começou sua terceira fase nesta semana, possui elementos já vistos em outras obras.Mas uma delas se aproxima bastante da novela atual, O Rei do Gado, exibida originalmente em 1996 e reprisada duas vezes no Vale a Pena Ver de Novo, em 1999 e 2015. A última reexibição foi sucesso para o horário vespertino, o que influenciou a Rede Globo a dar sinal verde para a nova produção – já que o canal sofria com a queda de audiência provocada por Babilônia, uma trama extremamente urbana e contemporânea. Apesar dos 20 anos de diferença, as duas novelas de Ruy Barbosa possuem diversas semelhanças, confira abaixo algumas delas:

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Overdose de Antonio Fagundes

Antonio Fagundes é o protagonista dos dois folhetins. Em O Rei do Gado ele interpretou Antonio Mezenga (na primeira fase) e Bruno Mezenga (na segunda), um fazendeiro de café e depois um dos maiores criadores de gado do país. Na trama atual, vive Afrânio de Sá Ribeiro, novamente um fazendeiro, mas desta vez primeiro de algodão, depois de frutas. Nas duas novelas, o ator aparece muitas vezes de chapéu, comandando com mãos de ferro seus empregados, e tem forte influência política além de econômica nas comunidades em que vive. Uma diferença entre os dois personagens é que o primeiro aceitava os seus cabelos que começavam a ficar grisalhos e algumas mudanças da sociedade, enquanto o atual é conservador, vaidoso e tinge os fios, pois se recusa a envelhecer.

Famílias brigadas

Uma versão nacional dos Montecchios e os Capuletos, famílias rivais de Romeu e Julieta, os Mezenga e os Berdinazzi são donos da principal desavença da história da TV brasileira. Os imigrantes italianos que brigavam nas suas fazendas cafeeiras vizinhas são referência até hoje, sendo impossível não lembrar deles ao ver a briga de Afrânio Sá Ribeiro (Rodrigo Santoro), o Coronel Saruê, e o Capitão Ernesto Rosa (Rodrigo Lombardi), que além de concorrentes na produção de algodão, também brigavam pelo controle político de Grotas do São Francisco. Em O Rei do Gado, a briga trouxe muita desgraça para os dois lados, especialmente para os Berdinazzi, o mesmo se repetiu em Velho Chico, quando Rosa foi assassinado e depois o seu protegido Belmiro dos Anjos (Chico Diaz).

Romeus & Julietas

A briga entre famílias leva a outro tema recorrente nas tramas de Ruy Barbosa: o casal que vive o amor proibido shakespeariano. Em O Rei do Gado, Enrico (Leonardo Brício), filho dos Mezenga, se apaixona por Giovanna (Letícia Spiller), filha dos Berdinazzi. Os dois se casam, fogem e tem um filho, Bruno (Antonio Fagundes), que depois se torna o grande protagonista do folhetim. Já em Velho Chico, Maria Tereza (Juliana Dalavia), filha do Coronel, se relaciona com Santo (Renato Góes), filho do seu rival, ela engravida mas é levada pelo pai para Salvador onde se casa com Carlos Eduardo (Rafael Vitti), anos depois retorna para Grotas do São Francisco e reencontra sua paixão da juventude.

Fazendas

Ruy Barbosa tem preferência por locações interioranas e ambientes rurais, escapando do eixo Rio-São Paulo muito comum nas novelas da Rede Globo. O Rei do Gado se passava principalmente em Goiás, além de cenas em Brasília. Já Velho Chico concentra sua trama no sertão nordestino, às margens do Rio São Francisco, local que se tornou polo de produção de frutas nos últimos anos.

Trilha-sonora brasileira

As duas novelas utilizam apenas músicas brasileiras como trilha. O Rei do Gado trabalhou com o ritmo sertanejo principalmente, com canções de Chitãozinho & Xororó e Pirilampo & Saracura; enquanto Velho Chico traz artistas nordestinos, como Elba Ramalho, Alceu Valença e Caetano Veloso.

Mudança de fases

Ambas as novelas sofreram mudanças de fase. O Rei do Gado começou durante a época da Segunda Guerra Mundial, com a briga dos Mezenga e Berdinazzi por terras. Após muitos infortúnios, a trama foi atualizada para os anos 1990 e as fazendas cafeeiras foram substituídas pela criação de gado de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes). Velho Chico teve no total três fases. A primeira se passa nos anos 1960 e apresentou o protagonista Afrânio Sá Riberio (Rodrigo Santoro) assumindo os negócios da família após a morte do pai. A segunda, em 1980, mostrou o relacionamento proibido entre Maria Tereza (Juliana Dalavia) e Santo (Renato Góes). A fase atual trocou a plantação de algodão por frutas e mostra o Coronel (Antonio Fagundes) enfrentando a própria filha (agora interpretada por Camila Pitanga), que retornou para a cidade de Grotas de São Francisco.

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Diretor

Ambas as novelas foram comandadas pela mesma pessoa: Luiz Fernando Carvalho. O diretor é especialista em produzir histórias épicas, e criou um estilo próprio depois da minissérie Hoje É Dia de Maria , de 2005. O visual característico das obras dirigidas por Carvalho pode ser visto nos belos figurinos, nos ângulos criativos e poéticos e na fotografia impecável da trama atual, algo que o diretor ainda não explorava na época de O Rei do Gado. Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando Carvalho trabalharam juntos em vários outros trabalhos, como Meu Pedacinho de Chão (2014), Esperança (2002), eRenascer (1993).

*Veja

 

 

 

 

 

 

 



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