‘Não vou deixar que maluco impeça meu trabalho’, diz juíza atacada em SP

A juíza Tatiane Moreira Lima enviou mensagem de voz para grupos de amigos magistrados agradecendo o apoio que recebeu após ter sido vítima de um ataque de um agressor no Fórum Butantã, na quarta-feira (30). “Não vou deixar que um maluco impeça que eu faça meu trabalho que eu amo tanto”, afirmou a magistrada. A assessoria do Tribunal de Justiça de São Pauilo confirmou a autenticidade da gravação.

“Agradeço ao carinho enorme de todo o grupo, as mensagens que tenho recebido de vários colegas. Me sinto abraçada, muito querida e muito confortada. Graças a Deus os danos físicos foram mínimos e os danos emocionais também. Não vou deixar que um maluco impeça que eu faça meu trabalho e que eu exerça minha função.”

“Um trabalho que eu amo tanto e que me dedico muito a essa causa da violência doméstica. Uma pessoa só não pode apagar trabalho que beneficia uma série de pessoas.”

A juíza diz que espera que a agressão sofrida possa trazer benefícios aos outros juízes. “Fico muito feliz que essa situação difícil que eu vivi possa se tornar algo bom e possa beneficiar toda a nossa carreira porque expõe um risco a que todos estamos sujeito. Sinto que nós não estamos sozinho. Importante sentir que fazemos parte de um corpo todo e nossa atuação precisa ser garantida com maior segurança e melhores condições de trabalho a todos.”

A Associação Paulista dos Magistrados realizou um ato, na tarde desta quinta-feira (31), em frente ao Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo, pedindo medidas para garantir a segurança dos juízes.

Homem ameçou incendiar juíza
O homem que invadiu o Fórum Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, na quarta-feira (30), e manteve a juíza Tatiane Moreira Lima refém por 30 minutos, sob a ameaça de incendiá-la, planejava matar a magistrada e se suicidar em seguida. Ele havia jogado líquido inflamável nele e na mulher e com um isqueiro pretendia colocar fogo nos dois. É o que informa o boletim de ocorrência registrado pela polícia no 51º Distrito Policial (DP), onde o caso é investigado.

O vendedor Alfredo José dos Santos, de 36 anos, foi preso no mesmo dia pela Polícia Militar (PM) após se distrair com policiais que o filmavam. O invasor havia exigido que filmassem a juíza da Vara de Violência Doméstica, dizer que ele era inocente da acusação de ter agredido sua ex-mulher.

De acordo com o registro policial, por conta do caso envolvendo a magistrada, Alfredo – que já respondia em liberdade por violência doméstica – foi indiciado agora por tentativa de assassinato, explosão e resistência. Por esses crimes, o agressor responderá preso.

Nesta quinta-feira (31), o vendedor foi transferido para o Centro de Detenção Provisória (CDP) Belém. O G1 não conseguiu confirmar se ele já constituiu advogado para defendê-lo.

A equipe de reportagem também não localizou a juíza para comentar o assunto.

Por causa do incidente, o fórum ficará fechado nesta quinta-feira. Todas as audiências agendadas foram canceladas e serão remarcadas. De acordo com Tribunal de Justiça (TJ), “se constatadas falhas, medidas corretivas serão tomadas de imediato”.

“Muito agressivo e alterado, dizia que iria atear fogo na juíza e que na sequência iria se matar”, informa o boletim de ocorrência feito a partir das informações de testemunhas. Nesse caso o relato se baseou no que relataram um vigilante, que tentou impedir Alfredo, e um policial militar, que negociou a rendição do vendedor e libertação da juíza no fórum.

“Durante o período que manteve a vítima juíza sob a violência, o indiciado a obrigou a falar em seu telefone celular que ele era inocente, caso contrário a mataria”, informa outro trecho da ocorrência. “Referido telefone foi apreendido e realmente contém essa gravação que foi submetida à perícia”.

Um dos vídeos mostra Alfredo filmando a juíza com um celular. Ele obriga a juíza a dizer que ele é inocente da acusação de ter agredido sua ex-mulher. “Seu pai é inocente”, diz a magistrada no vídeo que o agressor queria que fosse mostrado ao filho dele.

“Dizia que a juíza tinha acabado com a vida dele injustamente”, informa o boletim de ocorrência sobre o fato de Alfredo ter perdido a guarda do filho. Ele é réu na ação de agressão contra a ex-mulher e foi enquadrado na Lei Maria da Penha, que protege mulheres vítimas de violência ou ameaças.

O caso
Para o vendedor, a culpada por ter tirado a guarda do seu filho foi a juíza. Na quarta-feira, Alfredo havia sido chamado ao fórum para uma audiência com a magistrada. Por volta das 14h, visivelmente abalado psicologicamente, ele invadiu o fórum correndo, com uma mochila repleta de garrafas com líquido inflamável, passando pela segurança.

Em seguida, despejou o líquido e ateou fogo numa escada, impedindo um vigilante armado de alcança-lo. O segurança ainda atirou em direção a Alfredo, mas o disparo atingiu a parede.

Sem ser barrado, Alfredo correu até o gabinete da juíza, a agarrou pelo pescoço e despejou um produto químico nela e nele.

Quando seguranças do fórum chegaram à sala da magistrada, Alfredo segurava a juíza pelo pescoço. Após negociação com a polícia, ele exigiu que os policiais na sala também filmassem ele segurando a juíza. Exigia que ela dissesse que ele não era louco e era inocente. Também pediu que chamassem a TV. A gravação foi feita por um policial.

*G1



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