Cachoeira: processo de feminicídio de estudante está inativo um ano e meio após o crime

Elitânia de Souza da Hora foi morta a tiros a caminho de casa após deixar aula na Bahia — Foto: Reprodução/Facebook

O processo do feminicídio de Elitânia de Souza da Hora está com o status de inativo no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), mesmo após terem se passado um ano e meio do crime. Elitânia teve a vida interrompida aos 25 anos, pelo ex-namorado, José Alexandre Passo Góes Silva, em Cachoeira. Ela foi assassinada a tiros enquanto voltava da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde era aluna.

Um ano e meio após jovem ser morta por ex-namorado na Bahia, família denuncia processo inativo na Justiça — Foto: Arquivo pessoal
Um ano e meio após jovem ser morta por ex-namorado na Bahia, família denuncia processo inativo na Justiça — Foto: Arquivo pessoal

O G1 consultou o portal público do TJ-BA e não conseguiu encontrar o processo, que foi movido pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA). A família da vítima denuncia que o processo desapareceu porque o réu, José Alexandre, é filho de um ex-desembargador.

“Ele é filho de um ex-desembargador, por isso o processo não existe. A gente só sabe que o pai dele não exerce mais o cargo. Estamos lutando, a gente segue lutando por justiça, mas como não temos condições de colocar um advogado para acompanhar, a gente não sabe muita coisa sobre o caso”, contou o irmão da vítima, Rodrigo de Souza da Hora.

O G1 entrou em contato com o TJ-BA para saber o porquê de o processo estar inativo, bem como para apurar se o réu está preso e qual o posicionamento da instituição sobre as alegações da família, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria. A reportagem também não conseguiu o contato da defesa de José Alexandre.

José Alexandre Passo Góes Silva foi preso por matar a ex-namorada, Elitânia de Souza da Hora, na cidade de Cachoeira, na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia

José Alexandre Passo Góes Silva foi preso por matar a ex-namorada, Elitânia de Souza da Hora, na cidade de Cachoeira, na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia

“A gente nem sabe se ele ainda está preso, só vemos o povo falando que ele está solto, que está em uma fazenda. Minha mãe está muito abalada ainda, com a morte dela [Elitânia]. O que mais ela quer saber é se ele está preso”, disse Rodrigo.

O G1 também entrou em contato com o MP-BA, responsável por denunciar José Alexandre à Justiça, para saber se o órgão segue acompanhando o caso, e quais medidas foram ou serão tomadas com a inatividade do processo, mas também não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Feminicídio

 

Elitânia de Souza da Hora foi morta a tiros a caminho de casa após deixar aula na Bahia — Foto: Reprodução/Facebook
Elitânia de Souza da Hora foi morta a tiros a caminho de casa após deixar aula na Bahia — Foto: Reprodução/Facebook

Elitânia foi morta no dia 27 de novembro de 2019. A vítima estava acompanhada de uma amiga, quando foi baleada. Elitânia chegou a ser socorrida e foi levada para um hospital, mas não resistiu.

Durante as investigações, a polícia apontou que o feminicídio de Elitânia foi motivado porque José Alexandre não aceitava o fim do relacionamento dos dois, e assim resolveu acabar com a vida da jovem.

Meses antes de assassinar Elitânia, José Alexandre agrediu a vítima, que denunciou ele à polícia, entrou na Justiça e conseguiu uma medida protetiva contra ele. A medida, que determinava que ele não se aproximasse dela, não preservou a vida da jovem.

No dia seguinte ao assassinato da vítima, a Justiça decretou a prisão preventiva de José Alexandre, a pedido do delegado João Mateus, responsável por investigar o caso. O corpo de Elitânia foi enterrado no dia 29 de novembro do mesmo ano, em Cachoeira.

Grupo realizou protesto em Cachoeira pelo assassinato de estudante — Foto: Raphael Marques/TV Bahia
Grupo realizou protesto em Cachoeira pelo assassinato de estudante — Foto: Raphael Marques/TV Bahia

Nesse mesmo dia, José Alexandre se apresentou à polícia e foi preso. Durante a prisão, ele se manteve calado e não se pronunciou sobre as acusações. No mesmo dia, ele foi encaminhado para o Conjunto Penal de Feira de Santana.

Querida pela família, amigos e professores da universidade, Elitânia foi homenageada em vários protestos na cidade, todos eles pedindo justiça pelo feminicídio. A jovem também era uma das lideranças da Comunidade Quilombola do Tabuleiro da Vitória, em Cachoeira.

Outro protesto foi feito no dia 13 de fevereiro de 2020, quando aconteceu a primeira audiência de instrução do caso. Desde então, não houve mais movimentações do processo, que não aparece nos registros públicos do portal do Tribunal de Justiça.

Livro em memória

 

Elitânia de Souza da Hora foi morta a tiros a caminho de casa após deixar aula na Bahia — Foto: Reprodução/Facebook
Elitânia de Souza da Hora foi morta a tiros a caminho de casa após deixar aula na Bahia — Foto: Reprodução/Facebook

Depois do feminicídio de Elitânia, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a ONU Mulheres repercutiram o crime e pediram o fim da violência contra as mulheres.

Nesta segunda-feira (17), o UNFPA lançou o livro “Reportagens: a igualdade de gênero como degrau para o Desenvolvimento Sustentável”, em memória de Elitânia.

A publicação reúne textos sobre a história de vida da jovem, o perfil das vítimas de feminicídio no Brasil e as respostas do Estado para a violência contra as mulheres.

“A gente agradece demais pelo livro, é uma forma de lembrar a minha irmã, enquanto a gente busca justiça”, falou o irmão de Elitânia.

*G1


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