Preço do pão francês tem alta de 6% apenas no último mês

Impulsionado pela elevação do trigo, valor médio do quilo do alimento é de R$ 18,50

O preço do quilo do pão francês aumentou em março em todas as cidades brasileiras, revela a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em Salvador, o preço médio do produto gira em torno de R$ 18,50 – alta média de 6% em relação ao mês anterior.

O motivo da disparada seria a redução da oferta de trigo no mercado externo.

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimap), a guerra entre Rússia e Ucrânia vem impactando no custo dos insumos na cadeia produtiva, e no valor final dos itens derivados. Juntos, os dois países respondem por quase 30% das exportações mundiais do grão.

Ainda de acordo com a Abimap, o desabastecimento tem a ver também com dificuldades logísticas, uma vez que o conflito fechou portos e interrompeu o transporte. Isso, além da queda na produção ucraniana da comódite.

As sucessivas altas no preço do pãozinho, porém, ocorre já há pelo menos três anos,  bem anterior, portanto, à  crise instaurada no leste europeu –, dizem os analistas ouvidos por A TARDE.

Supervisora técnica do Dieese na Bahia, Ana Georgina Dias lembra que o Brasil produz menos da metade do trigo consumido e precisa importar grandes quantidades do grão de países do Mercosul, sobretudo a Argentina, além de Estados Unidos e Canadá. Ela destaca ainda que o país não compra da Rússia ou Ucrânia.

Georgina põe a conta em uma sucessão de acontecimentos que culminou com a alta generalizada dos preços dos alimentos. Os fatores vão desde o advento da pandemia, e o modelo de matriz energética brasileiro (fortemente dependente de água, em um contexto de  crise hídrica; quando não diesel, a partir das usinas termelétricas); a desvalorização do real frente ao dólar, passando pela política de paridade internacional do barril de petróleo, até mesmo o aquecimento global.

“Estamos em um mato sem cachorro, como se diz. É tiro, porrada e bomba. Um cenário extremamente complicado, influenciado pelo clima, a alta da exportação e importação de produtos, como óleo de soja, o próprio trigo. Culturas perdendo espaço em área plantada, como o feijão. Escalada de preço de fertilizantes”.

“Infelizmente são problemas complexos, sem soluções fáceis, que foram piorados com a guerra. A questão do aquecimento global tem uma influência maior do que se supõe, com efeitos econômicos e humanitários no mundo inteiro. O preço do combustível está no frete alimentando a inflação. E não será o aumento dos juros, em um momento de desaceleração da atividade, que resolverá a situação”.

Dono de uma panificadora no Garcia há 25 anos, o empresário Reginaldo de Souza conta que só nos últimos dois meses registrou alta no preço da farinha de trigo de 30%. Com uma produção mensal de duas toneladas de pães, ele diz que tem comprado o produto para estocar, mas que isso não é bom para o negócio.

“É preciso estocar para não correr risco (de desabastecimento), mas não é bom para a gente. O consumidor costuma achar que aumentamos preço por vontade própria, mas não. Chega um limite que não dá para não repassar o custo, o que não é bom para ninguém. Esperávamos, pelo contrário, pela estabilidade dos preços”.

Alimentos básicos

No acumulado do ano, a gerente da Delicatessen Rio Vermelho, Edneia Serra, contabiliza crescimento de 140% no valor da farinha de trigo. Ela diz que antes da pandemia, o preço do quilo do pão francês era R$ 12,50. E que “foi subindo” para R$ 13,50; depois R$ 14,50; R$ 15; R$ 16; R$ 17, até chegar no patamar atual (de R$ 18).

“O preço está exorbitante, muito elevado, e não repassamos o quanto deveríamos (custo para o consumidor). Além da farinha de trigo, toda matéria prima praticamente dobrou de preço. Toda semana tem reajuste. Os usineiros com dificuldade em comprar trigo. Ficamos segurando o preço de pão, massas, biscoitos”.

Mestre em desenvolvimento regional e urbano, o economista Lucas Spínola diz que o aumento dos preços de alimentos básicos dificulta a vida do consumidor “em termos de alternativas” – como a substituição dos itens  –, impactando sobremaneira o bolso da parcela da população mais vulnerável economicamente.

“O poder de compra tem caído e afetado diretamente elementos básicos do consumo, o que dificulta em termos de alternativas para o cidadão. Mais uma vez é apertar ainda mais os cintos, ou buscar alternativas de geração de novas rendas. É um momento desafiador, seja no aspecto humanitário quanto no econômico. As consequências de tudo isto, porém, não se restringem exclusivamente ao Brasil”.

Outros itens da cesta básica

Feijão – O preço do feijão aumentou em todas as capitais. Para o tipo carioquinha,

as altas no País oscilaram entre 1,43%,  e 14,78%. Já o preço do feijão preto apresentou taxas entre 1,07%, e 6,8%

Óleo de soja – Registrou aumento em todas as capitais, entre fevereiro e março. As variações positivas oscilaram entre 2,81%, e 15,89%, em Salvador, maior média nacional

Farinha de trigo – Apresentou elevações expressivas, com destaque para as taxas de Vitória, no Espírito Santo (9,3%)

Leite integral – Os preços do leite integral subiram em 16 cidades, em março. A maior alta foi de 13,09%, em Belo Horizonte

Fonte: Dieese

 

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